H@ vida depois dos 60

…com pensamento, opinião e poesia em doses homeopáticas…

arquivos do mes de maio, 2005

garoa


perdi a conta das chuvas
as matinais desafiando o sol
as vespertinas de enxurradas
e as noturnas em ventos sibilantes
mas gosto mesmo é das garoas
especialmente durante a primavera
por ver cairem gotas entre pétalas
a exalar um nectar
que febrilmente aspiro
também gosto das chuvas tropicais
em madrugadas de verão
fazendo recender da terra aroma impactante
lavas d’água levam a mente a tempos imemoriais
e me despejam lágrimas senis
vivi molhado o quanto quis
mas ando árido caçando nas vazantes
sequioso por novos temporais

pensado por Tarciso comente

luz no horizonte

estou num único lugar
que se chama hoje
me falta o tempo
e as horas se arrastam
procuro oásis no deserto
e estou perto de encontrar
já sinto o odor da relva
e a leveza da brisa adocicada
o passado é só um vácuo de momentos
dissipados até agora
busco o brilho do futuro
quase alcanço o limiar
de um dia inesperado
que vive a me esperar
porto certo de chegada
novo ponto de partida
rumo ao abraço divino
meu eterno navegar

pensado por Tarciso comente

segunda natureza

sou otimista
porque vejo a ordem da natureza
e a sucessão dos dias
sou otimista
apesar dos homens
e a corrupção que grassa
porque a maioria escondida é honesta
embora destaquem-se os pontos da escuridão
sou otimista
porque creio em Deus
e não preciso nem devo ter medo
sei que o bem triunfará
sou otimista sem volta
mesmo diante do pessimismo coletivo
pois o sol continua a iluminar
acima das nuvens carregadas
e a escuridão efêmera
conheço a luz permanente
de brilhos a irradiar
sou otimista
porque tudo tem solução
até o problema mais difícil
é fugir do conformismo
não desistir e lutar

pensado por Tarciso comente

pulsação

pulsando de ansiedade
segue a vida misteriosa
não me lembro nada antes
não sei o que vem depois
já quedei silencioso
perdido na imensidão
fui refém do pensamento
mil idéias pouca ação
eu quisera traduzir-me
mas confundi a versão
caminhei por muitas leguas
sem mover os pés do chão
é meu fado
é meu tormento
cimento da abstração

pensado por Tarciso comente

luz e sombras

assisto aos escombros
nas rotas da madrugada
fugindo furtivo de tua luz solar
faltam-me coisas simples
um ramalhete de flores
uma jóia que te enfeite
um beijo reservado
o jogo de cintura
nas horas de incerteza
replicadas e vencidas
chegadas e partidas
por sobreviver

pensado por Tarciso comente

além de meia centena

voaram os ponteiros
a vida mais parece um sonho
embora tenha cores de delírio
rolo na cama em meio a pensamentos
avanço entre decrépito e inóspito
feito paquiderme depois do cio
o que fazer com tanto que nos sobra
o que fazer sem tudo que nos falta?!
telúrico porém insípido
presunçoso e diáfano
assomo em cada manhã
após a escuridão do sono
e vejo micropartículas
dançando aos raios de sol
sob a cortina da janela
os olhos marejam à remela
que a água límpida remove
descalço iço-me de novo
e me renovo em 24 horas
nos tímpanos “feliz aniversário”!

pensado por Tarciso comente

vazão

vazo e transbordo o vaso
espraio águas ao redor
sem nunca me molhar
árido
aprecio a fluidez
dos líquidos espessos
travesso
só no meu pensar
os passos vão medidos
mesuras escondidas
nem tento decifrar

pensado por Tarciso comente

tiquetaques

na pulsão do tempo
se movem os ponteiros
acelerando minha letargia
num jogo febril e ambivalente
escolho célere os minutos e sigo lentamente
na imensidão das horas vazias
bailando preguiçoso
ao som de tiquetaques incessantes

pensado por Tarciso comente

lambendo a linha do silêncio

quase se escuta meu silêncio
após o exagero das palavras
preciso dele em meu caminho
que fique instalado por um tempo
depois retomo o burburinho
e ousarei inéditas versões
ou falarei das mesmas coisas
em novos formatos
não saberia renovar as locuções
são imutáveis minhas referências
me mudo a toda hora e volto ao mesmo
no íntimo sou místico-profético
anfíbio entre ingênuo e raposa
transmuto em borboleta a mariposa
assumo ser patético também
mas por que seria diferente?
se gosto mesmo é quando sou assim?!…

pensado por Tarciso comente