meu coração inquieto
se remexe no meu peito
tenho estado desse jeito
não há muito por fazer
o que fiz já está feito
me envergonho de dizer
a ladeira se agiganta
e deslizo tal criança
dizendo não ao meu sim
passam dias, passam anos
eu fico fazendo planos
e apagando os estopins
destas dores escondidas
que distorcem toda a vida
e não parecem ter fim
os cabelos encanecem
ao outono que entardece
em penumbras dentro de mim
arquivos do mes de abril, 2006
labirinto
correntezas
vislumbro as chuvas e as correntezas
das águas barrentas do “Monjolinho”
meu pequeno rio de lembranças
quase todos éramos crianças
e os adultos habitavam muito longe
suas cabeças nas alturas
seus corpos macilentos
fugíamos das palavras duras
que impacientes ralhavam sobre nós
e nos embrenhávamos nos capinzais
brincávamos e corríamos soltos
feito pequenos potros indomáveis
e só voltávamos ao entardecer
rondando às ternas saias das matronas
na fuga aos olhares fuzilantes
dos senhores barbudos – avós e pais
mas quando exaustos nós dormíamos
aqueles seres rudes e viris
se aproximavam contidos e afagavam
nossos cabelos em desalinho
antes de se recolherem
cansados sob o linho dos lençóis…
se arrastam em sonhadas corredeiras
estas páginas antigas e viradas
na dimensão imutável
do tempo que não pára de mudar
tornando alguns ainda mais serenos
e a outros remoendo sem cessar…
ode à Beleza
bem além de seus conceitos
se advinha em entrelinhas
se revela nos silêncios
nos rostos dos anciãos
nos casais enamorados
semblantes puros da infância
em folhas soltas ao vento
raios que iluminam a noite
em açoites da saudade
na pureza de um viver
a Beleza – meus amigos
com toda simplicidade
se esconde no coração
em adornos da verdade
retrato esmaecido
A história se repete e cada um evolui ou fracassa na mesma proporção com que aprende ou ignora os fatos. A maioria vive revisando os acontecimentos e eu não sou exceção. Hoje remexia em papéis guardados e revi fotos antigas esmaecidas pelo tempo. Na maioria delas eu quase não me reconheço – cabeleira farta, olhar altivo e uma certa presunção no rosto. Talvez não seja isso. Mas é a leitura possível porque as minhas lembranças também se esmaeceram ao decorrer dos anos. Não consigo me lembrar dos sonhos, fantasias e nem dos medos que sentia. A vida apenas se advinhava e quase nunca acontecia. O amanhã parecia um lugar muito distante. E esse olhar na foto nem é tanto presunção, na verdade é muito mais uma interrogação sutil. No fundo quase nada mudou, exceto a fisionomia. Não há nada mais igual a um ser humano do que ele mesmo, passe o que passar (tempo, espaço e forma). Nesse todo impreciso, só viver é preciso!
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