na divisa em crepúsculo
uma linha curvilínia que decai
tensos músculos só os do olhar
pois que se afrouxam todos os demais
alguma sabedoria se decanta
e sublima o pranto que não cai
onde a trilha vai levar
de onde ela vem
para onde ela vai
as memórias se embaralham no passado
e o futuro é tão somente uma neblina
o que será depois daquela esquina
com seus sinais indecifráveis
enquanto houver essa tensão no olhar
o corpo não caminha
por conta do crepúsculo
e a força ausente em cada músculo
decifrar ou ser devorado
eis a sina de quem fica
eis a sina de quem vai…
arquivos do mes de junho, 2006
crepúsculo do olhar
um audioblog surpreendente
As surpresas, como é de se esperar, jamais avisam… Acontecimentos inesperados e inusitados se insinuam em nosso quotidiano ora enfeitando, ora enfeiando o nosso dia-a-dia. Mas hoje falo de enfeites, porque nestes últimos dias tomei conhecimento, através da indicação do meu amigo Marcelo Camafunga, de um site português onde um locutor interpreta textos de escritores consagrados e também de autores anônimos. Como me enquadro nesta última categoria desejei ouvir-me e enviei tres textos de minha autoria, sendo duas poesias e um conto. É verdade que não atinava com a possibilidade de ouvi-los – não ao menos com tamanha brevidade – mas para minha satisfação eis que sou notificado que um dos meus textos, ao lado de um outro do referido amigo Marcelo e ainda um terceiro de um autor português, foi interpretado e disponibilizado em um audioblog na internet pelo Luis Gaspar – ao qual antes me referi e a quem fico imensamente agradecido por esta especialíssima deferência. A quem tiver o desejo de ouvir como ficou bonita a interpretação é possível acessá-la no site Estudio Raposa – audioblog do Luis Gaspar (sugiro que se guarde carinhosamente nos favoritos porque vale a pena) no item “Lugar aos Outros 06”. Claro que ninguém consegue acessar o audioblog do Luis Gaspar sem deixar de se encantar ao ouvir os textos por ele interpretados, sejam aqueles já consagrados sejam as criações de anônimos autores.
Quando ao texto de minha autoria que o Luis Gaspar maravilhosamente interpreta em seu audioblog é o que reproduzo a seguir:
O que nos reserva Cronos…
seu templo difuso, cortinas de nuvens
murmúrios, painéis a cores, ficam e vem
trilhos desconhecidos enquadram – dirigem o trem fugidio…
esquio veloz esbranquiçados lugares gélidos
um certo tom cinza predomina
minha pálida neblina como convém
sou levado por águas
enxurradas cansadas
Beijo o espaço e vejo vidraças foscas
no interior passeiam moscas
e cá fora ganem alguns cães friorentos
onde andarão meus unguentos?!
E os dois rebentos de que servirão?…
Investe novamente a sonolência surda
e sinto o estrago do absurdo e contido
desse choro mudo e convulso
me remexo na cadeira inquieto
olho o fog e a fumaça rumo ao teto
estou dentro e fora de tudo e todos
levo tudo a rodo e sempre sobra alguma sujeira molhada
de concreto resta um quase nada
exceto essa dor
suavemente virulenta
docemente acre
restos do último porre
na entranha uma sede faminta
e um que de tolice disperso no ar
pra que sorrir, pra que chorar?
Irrita aquela música de fundo
feito alegres petiscos nas vitrines
longe, caros, fumegantes mas frios nos pratos
a imagem dos rostos sardentos e famintos
povoam a minha mente e até o picante odor mendigo
finjo não ver, não ligo, mas vejo-os ali lado a lado
e eu pensando e sofrendo sem motivo aparente
falta de gente, frio cortante, medo demente, raiva gritante…
Depois, de que adianta ficar pensando neste tédio
não trago aqui remédio
só uma espécie de irritação tardia
revolta absurda
pressinto o vazio
acho que é apenas solidão!
saudades do monjolinho
em movimentos ondulantes
oscilando entre um tom esverdeado
quando se enrosca nos remansos
e um azul na correnteza acelerado
desce o rio ao silvo das folhagens
que festejam as águas
a inundar os troncos de suas árvores
na linha do horizonte
o sol candente se espreguiça
e seus raios adentram pântanos
por entre as pedras coloridas e as margens
a tudo assistem nuvens impassíveis
que dançam suaves lá no céu
e eu de olhos vendados no presente
enxergo tão nítidas as águas do passado
e calo de saudades aqui do meu lugar distante
suspirando pelo meu oásis encantado…
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