num olhar superficial
nada na superfície
nada em profundidade
mergulho mais intenso
onde as águas são turvas e pesadas
pra ver fantasmas submersos
monstros marinhos
e peixes assombrosos
me falta o oxigênio
e a mente entorpecida
se divide
em muitos fragmentos
eu comigo em mim mesmo
porque a vida não é refresco
e nem toda água é potável
mas tem tanta coisa boa
sob o céu e sob o sol
e sobre o musgo verde da terra
nos tempos de chuvarada
pra fome de acalanto
braços que abraçam
e resta um sorriso advinhado
nos cantos dos meus lábios
quando olho as estrelas
e as florestas açoitadas pelo vento
e os filetes dágua
que descem inclinados
se derramando em garoa
encharcando o ser
sem magoar
demais…
arquivos do mes de dezembro, 2006
charcos
antigo olhar
nem nas lembranças
jamais há de faltar
a cumplicidade dos olhos
em candura
pois o olhar é a bebida
licor que entontece
e arranha a sanha
que adormece
no mais profundo
das purezas escondidas
rubores paralisantes
e a flor rude
açodadamente juvenil
se encoraja de encantos
na ousadia de eclodir
e arriscando a pele
faz desabrochar as pétalas
aos cânticos e cantares
até que transborde o néctar
tenro e avassalador
nenhum ardil
algum torpor
é só do que precisa
pra romper o lacre
e alcançar o ápice
um meigo abraço
…e um olhar de amor
Feliz Natal!!!
todos já fomos crianças
e por causa do Menino
nós brincamos de Natal
é corrida e futebol
é zorro e super homem
é zueira no quintal
é a mãe ralhando o filho
tão sujo e com tanto brilho
de uma infância quase eterna
crescemos, enamoramos
casamos, temos família
mas na festa, na vigília
esquecemos da idade
e o Menino de bondade
nos lembra a nossa criança
que depois fica esquecida
na luta em sobrevivência
no suor e penitência
das lágrimas não vertidas
em tantas voltas vividas
mas dezembro nunca falha
e o presépio em suas palhas
revive antigas lembranças
com os sinos, as sirenes
com as luzes coloridas
num milagre o pequenino
nosso Deus Jesus Menino
nos faz crer naquele bem
que a gente sempre quis
e nesse dia feliz
o céu derrama ternura
com estrelas prateadas
e a manjedoura enfeitada
que aos olhares encantam
e o lindo hino se canta
Noite Feliz
é Natal!!!
Feliz Natal (à mi manera)
Acho que sou uma exceção quando o assunto é como desejo celebrar o Natal. O meu primeiro ponto é procurar lembrar-me do Aniversariante e pensar em que fazer para mais agradá-lo! Investir no Natal, para mim, não é me estressar nos shoppings, nas filas quilométricas dos supermercados, nas loucuras das lojas de 1,99… Prefiro comprar 3 presentinhos básicos na semana posterior porque as crianças ainda se encantam com as luzes, os neons, as seduções dos comerciais! Mas quero que percebam o quanto prefiro me dedicar ao Menino Jesus, o quanto quero pensar nos presépios, nas estalagens, na humildade da condição em que Ele veio até nós. Prefiro investir na ternura de um abraço, no aconhego de um olhar doce e desarmado, em proferir palavras que aquecem almas e corações!… Creio que isso alegraria mais o aniversariante e, da minha parte, não vou engrossar as filas das compras e os níveis de estresse que se experimenta nestes momentos tão especiais quando os vivemos dessa forma hedonista e anestesiada que propagam os veículos de comunicação em suas propagandas coloridas e consumistas…
Feliz Natal pra você também!!!
indignação
Eu costumo escrever para órgãos de imprensa quando alguma coisa me incomoda. Desta vez vou publicar aqui também o e-mail que enviei ao jornalista Heródoto Barbeiro que é também âncora de rádio da CBN, a propósito de uma atitude que considero absurda e abusiva por parte dos nossos representantes no parlamento:
“Caro Heródoto Barbeiro
Ouço teu programa diariamente e não posso deixar de me expressar sobre esse assunto repugnante do aumento dos salários dos deputados e senadores, seja para condenar a auto-complacência dos nossos parlamentares ao apagar das luzes deste ano de vergonha, seja também para manifestar repúdio e exigir a revogação da proposta absurda. Embora respeite tuas reiteradas sugestões de enviar cobranças diretamente às caixas postais eletrônicas dos nossos deputados e senadores – considero de pouca eficácia dirigir lamentos a ouvidos moucos e entendo que a imprensa ainda é o melhor caminho para a ressonância da indignação civilizada.
Mas para não ficar apenas no problema sem oferecer propostas de solução, trago também uma sugestão para que nossos criativos representantes redijam e votem uma medida legal com o seguinte teor: “Os eventuais reajustes dos salários, ajudas de custo, verbas de representação e quaisquer outras rubricas pagas a membros eleitos ou nomeados para os poderes executivo, legislativo e judiciário, não poderão exceder o índice utilizado para a mais recente correção do salário mínimo”.
Afinal, se há um salário mínimo para a massa trabalhadora e aposentados e se há um teto máximo para os membros dos três poderes da república, porque não podem ambos obedecer aos mesmos parâmetros de reajuste? E se houver algum privilégio, não é óbvio que deveria se voltar para os assalariados e não às suas excelências que já tem as suas “burras” transbordando?!
Entre outras ações cívicas e responsáveis se espera de nossos representantes que usem com parcimônia os limitados recursos nacionais, priorizando de forma absoluta a redução das desigualdades sociais e a promoção da justa distribuição de renda!
Mas diante dessas excelências sanguessugas, mensaleiras e corporativistas que denunciam com suas atitudes o total descompromisso com a ética e a moral, indignação é pouco para expressar o sentimento de revolta da maioria do povo! Chegou a hora do basta!!!”
procuras
não está nas prateleiras
nas bolsas, nas algibeiras
nem no brilho dos olhares
não sei aonde se encontra
algo suave e profundo
nem sei se há neste mundo
no sagrado
no profano
nas bocas
becas
nos dias
ou nas noites de sereno
se é algo grande
ou pequeno
no claro talvez no escuro
não sei de mim
o que quero
nem sei mesmo
o que procuro…
ser menino
a lâmina de luz
lânguida e tênue
me possui
meus olhos brilham
no escuro
em dança etérea
ao calor da chama
que me inflama
e a pele morna
que seduz
eleva a cor
dos meus desejos
longe daqueles lábios
beijo uma lembrança
porque de novo sou criança
a flutuar em sonhos
até que a lua se esconda
e o céu de estrelas se exponha
a nu
diante do meu ser azul
menino encantado
que já fui
tentando descobrir
o que ainda sou…
antes que seja tarde…
antes que
o calo aperte e a vaca tussa
antes que a vida mansa
se desintegre
e só fiquem nuvens
contando a história
é preciso fazer alguma coisa
gerar ao menos uma ruptura
deixar uma marca no passado
e fincar bandeira no futuro
enquanto isso
o presente vai passando
misturando tudo
e até o futuro com o passado
será que ninguém vê?
será que ninguém ouve?
será que será
que será que
será que será
que será de nós???!!!…
porque é dezembro
querendo transbordar
o que me excede
arfando o peito me contenho
gemido preso na garganta
e na ausência da vazante
permito este açude submerso
das correntes que não verteram
um poço imenso de saudades
não sei dizer do que
também não sei de quem
confusas digressões
difusas sensações
de algo já distante
e ausências maquiadas pelo tempo
mas como dói…
oleiro poeta
o sol poente invade a sala
e as cortinas dançam na janela
meu domingo esmorece de canseira
fugindo acelerado ao fim do dia…
quantas vezes esta cena se repete
com risco de irromper o tédio
o remédio é abrir a porta
deixando o coração sair
o sonho é abrir o peito
sem medo do amor partir
enquanto isso me navega o pensamento
esboçando antigas miragens
suas muitas letras se perfilam
ao fogo incandescente viram lavas
e antes que congelem pela mente
num risco temerário
as moldo em palavras
formando esculturas do sentir…
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