Eu não vou falar do tempo, embora me sinta um tanto quanto traído por sua passagem tão fugaz. Apesar de viver eternamente o hoje, a saudade me remete ao passado e a ansiedade ao futuro. Mas não vou falar do tempo, ainda que os meses e anos se sucedam fazendo que os meus cabelos rareiem e os raros remanescentes embranqueçam. As crianças já se tornaram adultas e novas crianças surgem a cada dia. Os filhos têm seus filhos e sem pedir licença vão me fazendo avô – diga-se, – um deleite completo na existência. Mas também existem os espelhos e os comentários jocosos dos amigos. Não vou falar do tempo, mas percebo que a sua passagem pode conferir urgência a muita coisas. Não, nunca fui e nem serei um ancião lamentoso. Não hei de chorar o leite derramado. Não vou posar de vítima por ter deixado o tempo passar. Não, hoje eu não vou falar do tempo, porque não tenho esse tempo todo para falar…
arquivos do mes de abril, 2007
escrita juvenil
arrisco viver assim
entre o real e a fantasia
sonhando acordado
que tudo está consumado
não no sentido do fim
mas de começo
e arremesso a flecha
da minha aljava
em direção à meta cobiçada
um coração escolhido
entre tantos na multidão
e minha escolha casual
jamais foi por acaso
estava marcado
numa lenda antiga
desde o início do mundo
agora eu sei o que fazer
nada
nada
nada
basta deixar acontecer…
começo
do acontecimento
eliminando as espumas
sobra o fato
sem interpretações
retrato de um momento
que se desdobra
quase ao infinito
medito por acaso
em dois meros gametas
por linhas do destino
ou traços do divino
um dia se fundiram
depois de certo tempo
quem sabe o que virá
naquele novo ser
que se anuncia
em tímidos vagidos
como a dizer
ainda sem saber
o alguém
que ele será
a fala do silêncio
Quem sou, de onde vim, para onde vou?!
Estas questões ocupam a mente do ser humano desde o dia que ele se dá conta de ser até o dia em que perde a conta e parte para o seu destino além. São perguntas imbricadas entre si e suas respostas determinam a conduta e as escolhas mestras na vida da pessoa.
É verdade que a intensidade de uma tal preocupação varia muito de pessoa para pessoa e algumas apenas a consideram de forma rara e ocasional. Outras, no entanto, a tem por obsessão e dela não se afastam a não ser naquele dia em que tudo se exaure e ela mergulha no eterno fora do tempo. Ali se defrontará com a sua resposta quer esta seja plena de eloqüência, quer tudo se resuma num grande silêncio.
A Palavra?!… Ou o Silêncio?!…
Concebo honestamente a vida como palavra que ressoa ad aeternam mesmo ao risco de ao fim ser envolvido por uma quietude inamovível e sem fim… Como Pascal, experimentarei o deleite infinito a prevalecer o que concebo ou mergulharei no nada insensível se houver só o silêncio como resposta…
nonsense
nem tudo o que parece
merece aparecer
desvelado sobre os ombros
ou sob os escombros
do viver
quem sou?!
aonde vou?!
porque porque porque?!
perguntas prolongadas
e respostas vãs
deitado ao divã confesso
as neuras e as nóias
as canduras inocentes
do meu interior demente
massacrante
impenitente
nestes tempos de deserto
tudo longe
tudo perto
do nonsense
do não ser
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