Tendo tudo por fazer eu nada faço a não ser da tua gota o meu orvalho e do teu calor meu agasalho. Vou tirar carinhosamente o eu de ti e desnudar-me todo inteiro à tua frente. Assim serei o teu capacho e capricho e estarás comigo enquanto me deleito no teu pranto, no teu peito, no teu canto, no teu esvair-se em mim. Não vão nos roubar a cena e nem o doce da açucena as quais atentas abelhas desenvoltas sobrevoam enquanto ninguém nos vê. Palavras são só brinquedos esquecidos escolhidos torneados aos sentidos de quem escreve e quem lê. Não sei o que há detrás da porta que às vezes não comporta o meu silêncio incontido, então me expresso em gemidos, sussurro versos doídos, balbucio sem sentido até a dor não doer…
arquivos do mes de maio, 2007
vapor de maio
deslizo em solo cediço
para calar-me
só a dúvida – com certeza
e um sutil toque em meus lábios
que sussurros urdirão?
ninguém me percebe a dor
do vazio, do torpor
e da saudade bandida
de um tempo não vivido
no futuro do passado
são mil soluços no escuro
contra um sorriso branco
em manhãs de sol
a minha pele fria
nesta gelada agonia
e a intensa fome de calor
o teu forjando o meu
antigos desejos de fusão
a nos juntar eternamente
e derreter em magma
ou desfazer em lágrimas
de vapor
enredo
Hoje é um dia típico de domingo. Dia de missa, dia de família, dia de descanso. Tem gente que rejeita todas estas nuances mas eu valorizo intensamente a cada uma delas. Sei que sou previsível e, ao contrário do que possa parecer, me sinto bastante confortável com isto. O que não me apraz são os sobressaltos e uma vida atribulada. Gosto de viajar, conhecer lugares e pessoas. Principalmente os lugares extasiantes e as pessoas fascinantes. Mas o fascínio para mim está na serenidade e não tanto na aventura, na estabilidade e não tanto na inconsequência irreverente, na amizade e não tanto nas relações de entusiasmo momentâneo e ocasionais. As minhas imagens preferidas talvez soem melancólicas à maioria das pessoas. Aprecio o nascer e o por-do-sol, a chuva de verão, a brisa vespertina e noites de calor. Aprecio caminhar em silêncio de mãos dadas ou de forma solitária. Me deleita a boa música, o prato trivial, as confissões de afeto. Envelhecer não me é um fardo – antes, é consequência natural do tempo que passa. Concebo envelhecer como vitória e não uma derrota anunciada. Amo a rotina mas as vezes tudo o que preciso para revitalizá-la é uma boa dose de aventura. E aventura é um ingrediente que jamais falta no enredo de uma existência digna de ser considerada como tal. Convenhamos, viver é muito bom!…
as curvas do caminho
Quando concluí a manobra da curva na estrada e permiti ao volante descansar de sua árida tarefa, percebi que estava ao leme e que depois de cada curva tem sempre uma reta ou, na pior das hipóteses, uma nova curva. As nuvens dançavam no horizonte e mesmo aquelas sobre mim também deviam dançar embora eu não as pudesse ver. Notei o capricho das nuvens espalhando seus desenhos por toda a abóbada celeste. Quis usar esta expressão, – abóbada celeste, – pelo tépido conforto emocional que ela me traz. Me faz lembrar uma redoma de proteção ou quem sabe alguma reminiscência do útero materno. Também percebi que a vida acontece mesmo quando estou de olhos fechados ou quando os fatos me escapam, – afinal – ocupo apenas um discretíssimo ponto no universo. As vezes penso que estou ficando velho mas os meus amigos emendam generosamente e dizem que estou me tornando sábio. Acho que eles tem alguma dose de razão. O que estou pensando e considero estranho é que depois de uma curva pode ter uma nova curva em sentido oposto, caso contrário seria a continuação da mesma curva. Mas depois de uma reta, necessariamente virá uma curva e com isso concluo que as curvas são inevitáveis. E já que as curvas são inevitáveis quero fazer da vida uma espiral ascendente porque há alguma melancolia residual em cada aniversário. É duro pensar que o relógio deu tantas voltas e tudo continua no mesmo lugar. Carrego o sentimento de que com o passar dos anos, o fim vai ganhando uma tangibilidade assustadora e isso reforça a minha tese de que depois da reta haverá sempre uma curva. E haverá também a curva final. Mas isso nem é de todo mal, – e de outra forma, jamais saberíamos o que há do lado de lá, além da última curva…
pássaros noturnos
as penas e os pássaros
que pena
que pássaros
povoem
os pesadelos
das pessoas
e de certa forma
as levem
à toa
em olhares alçados
que sonham
que dançam
que voam
5º aniversário do meu blog
escolhas
a vida é festa
ou deveria
e a marcha
até nos serviria
se levasse
a algum lugar
aonde o acaso
nos juntasse
e nos fizesse
ser tudo aquilo
que jamais seríamos
em outro tempo e lugar
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