chove com insistência
num derrame de gotas modorrentas
e as folhas molhadas
espargem brilhos ao redor
todos os sentidos preguiçosos
trabalham à meia luz
cheiros, sons e paladares
brotam da terra em cio
fazendo um torpor vazio
emudecer os meus ais…
arquivos do mes de outubro, 2007
garoa
dilemas
Relacionamentos são variáveis como os estados da matéria. O que difere é que geralmente os idealizamos como paixão que é fusão incandescente e contínua. Mas como estamos sujeitos ao clima e às condições do ambiente – se ao invés de esquentar, esfria – podemos ter uma solidificação que cristaliza os corpos antes da fusão, causando extrema frustração. Existe ainda o risco da evaporação quando os sentimentos são muito líquidos e demasiadamente expostos às suas chamas, fazendo ruir todo aquele assombro inicial. Riscos menores correm a paixão domada que podemos chamar de amor ou a amizade que é o amor imune da paixão desordenada.
Mas estar vivo é correr riscos e é melhor dar a cara pra bater correndo esses riscos do que se camuflar para não sofrer e assim tampouco viver a vida em toda a intensidade de seu colorido…
é assim…
acordei de algum sonho
tantos dias se passaram
se aqui o tempo engrena
mais ali também engana
distorcida no espelho
minha imagem espartana
barba cabelo e bigode
omissos e alquebrados
nem levantem suas vozes
pois meus tímpanos atrozes
já não reverberam mais
vivo mudo de silêncio
encrespando minhas ondas
invadindo mil terrenos
nas fantasias dos anos
se vislumbro o crepúsculo
não reteso nenhum músculo
nenhuma coisa me espanta
o tempo escoa e não pára
tem começo meio e fim
a vida é simples assim…
palavra
as palavras são faíscas
incendeiam, tiram lascas
servem para desvendar
ou recobrem feito cascas
falam de tudo o que há
no peito, alma e na mente
daquilo que circunscreve
das coisas que vão surgir
acontecimentos passados
e mesmo das fantasias
mas quando a palavra cala
dá-se à luz a poesia
PS.: texto antigo, de 15/07/2004, postado lá no semi-abandonado “Verso & Prosa”
lua e estrelas
meu desvelo
tem a lógica quebrada
da penumbra
em sombra e luz
roubada do teu olhar
sempre altivo e lisongeiro
às vezes contemplativo
que me enfoca ou me sufoca
não sei o que vem primeiro
mas conservo este brilho
no sótão do meu porão
no sonho e na fantasia
nas estrelas
do meu chão
tres tempos
resseca a tez
à insensatez
do sol neste relento
a seca do rebento
sido no passado
que ainda camuflado
segue sendo
e que um dia
no futuro mais longínquo
contrário ao seu destino
anseia com afinco
de novo ser
menino…
porfia
a mistura exótica
de tristeza e alegria
de estranhos sorrisos
enquanto chora em tangos
o bandoneon na penumbra
um par desliza em movimentos
ora suaves ora bruscos
trocando rubros olhares
lúbricos calientes
parece ocasional
mas é fatal
que desse encontro
de aparência lúdica
a dor e o fardo
do existir
mergulhe a ambos
no elixir amargo
da volúpia
agredindo o espaço
o corpo e seu regaço
até o seu ocaso
no final da noite
quando ao lusco fusco
do raiar o dia
algo começa
algo termina
tudo porfia…
infância desvalida
a garotinha sardenta
de olhar suplicante
tão pequena
parecia disfarçar
soluços proibidos
quisera um instante a embalar
e aconchegá-la com ternura
mas reservada e distante
pela desconfiança ou medo
renegava aproximações
sequer algum trocado
ausente e solitária
impermeável a qualquer afeto
jamais sorria…
dias depois uma sirene alucinada
da ambulância que levava
o corpo inerte da criança
que fora atropelada
ali na sua esquina
de todo abandonada
e só uma menina
papel do Pão
Pão nosso
Que hoje nos sacia
Fruto do labor
De todo dia
Alimente a vida
Corpo e alma
Em todas as porfias
Nos ilumine o olhar
E nos permita ver
Além das aparências
Desperte a gratidão
Por todas as coisas belas
Grandes e pequenas
Deste dia
E nos ajude a ser
Fermentos de alegria
A vos agradecer
Pai Nosso…
Ps. Esta pequena poesia em formato de oração nasceu inspirada pela convocação da Loba para conhecer e participar do criativo projeto Pão & Poesia do poeta mineiro Diovvani Mendonça.
avareza
amanheço avaro de calor
embora febril
não me divido
não compartilho
já não serei teu cobertor
refém das tantas juras
dos teus lábios impuros
me sinto tão cansado
espoliado
passou a fase dos arroubos
e agora só rumino fantasias
rescaldo daqueles dias
dos beijos roubados
das brincadeiras proibidas
durante as noitadas insones
sem campainhas, sem telefones
sem luxos ou regalias
apenas nós dois
selvagemente apaixonados
em nosso ninho de amor
-
Meta
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