Existem palavras que denunciam o estado de alma de uma pessoa e outras que ocultam. Hoje, último dia deste primeiro mes do ano amanheci na dúvida sobre quais delas usar. Mas não vou abusar da minha seleta “audiência”, pelo que despejarei palavras frouxas e sem qualquer compromisso de revelações secretas. Simplesmente deixo fluir meus pensamentos fragmentados num mea culpa e me arrasto nesta escrita compulsiva. Bobagem. Há que vencer a preguiça mental – certamente – mas também um vazio de criatividade instaurada nesse meu universo diminuto em relação ao qual uma parcela aqui exponho sem muito me expor. Ligeiro non sense e sensações de vertigem. Minha cabeça oca rodopia e navego demente por ilhas desertas descobrindo novos oceanos para além dos sete mares. Oitavo mar. A peneira dos meus afetos filtra o lance predileto que não vou contar. Mas tenho sentimentos. Apenas não os sei ainda ou não quero expressar. Até um bicho preguiça deve tê-los e contê-los. Ao rés do chão – gosto desta expressão – caminho cabisbaixo e sem pressa no barro grudento que me engole sorrateiramente dissolvendo e refazendo em um novo molde mais esguio. No mais é apenas um instante de loucura consentida antes que um grito ecoe das entranhas dilaceradas dos andantes que rosnam sorridentes propensos a me devorar. Deixa que eu vá ali me saciar de alguma coisa mais concreta antes que novos delírios roubem o rastro de lucidez residual que acaso ainda haja em mim. Só sei que agora tenho aquela fome inclemente e uma sede insana de bombas de chocolate ou d’algum mel açucarado. E basta!
arquivos do mes de janeiro, 2008
bons momentos
As melhores coisas da vida são pequenas. Acontecimentos incrustrados na rotina ou na fuga dela. Rostos conhecidos e sorrisos francos, palavras cordiais, gestos de generosidade e de afeto. Cabe um destaque para a amizade sincera dos amigos, entre marido e mulher, pais e filhos, irmãos. Claro que na juventude sonhamos projetos grandiloquentes para o nosso futuro e quando ele chega percebemos que precisamos revisar alguns porque não poderemos cumpri-los da forma como os concebemos. Na verdade isso não acontece assim de repente, essa constatação é um processo demorado que no início tem sabor amargo. Mas, com o passar do tempo e a chegada daquela maturidade que nos traz a soma dos anos vividos, vamos compreendendo que os nossos melhores momentos são formados dessas pequenas coisas, pequenos sabores, momentos de suave ou intensa alegria. Bons momentos. Eles nos permitem superar a crueza de alguns acontecimentos e o choque de certos eventos inesperados que nos impactam e desestruturam. Não há garantias de felicidade permanente e ela é uma conquista daqueles que aprendem a refazer seus planos e reajustar suas metas em conformidade com suas medidas que vão se revelando no decorrer do tempo bem menores que no início imaginadas. Mas eu ouso dizer que só as pessoas comuns – no melhor sentido da palavra – são capazes de experimentar aquele verdadeiro bem estar no existir que costumamos denominar felicidade. Quem quer demais fica sempre um passo aquém disso e quem não exige muito de si mesmo, dos demais e da própria vida – este sempre alcança o pouco que quer e com isto se alegra e celebra o quão feliz percebe ser em suas pequenas conquistas no dia a dia. Não que não passe por decepções ou frustrações – mas, esperando pouco das circunstâncias e das pessoas – tudo o que eventualmente vier será lucro e proporcionará bem estar. Quanto aos sofrimentos inevitáveis que acontecem com qualquer vivente, esta pessoa tem a serenidade necessária para enfrentar e superá-los sem o desespero dos que esperam demais de si e dos outros… Como ouvi muitas vezes de alguns de meus antepassados – que sabiamente o diziam: o pouco com Deus é muito. E o tudo, sem Deus, é nada!
oceano
camuflado em sorrisos
escondo melancolias
e a saudade decantada
prestes a se derramar
me arrasta em silêncio
no dorso da madrugada
reviro sob os lençóis
desperto e incerto
como dois e dois são quatro
e vou pirata solitário
singrar um oceano imaginário
em meio a muitos devaneios
até ouvir a sua voz
num canto tão suave
a me ninar…
bom dia
Antes de chegar nesse ponto fluiam sem nexo as muitas palavras que não foram ditas nem serão escritas. O pensamento não tomava corpo e muitos fragmentos se insinuavam sem censuras. Mas como artesão das palavras eu ia construindo e destruindo as frases feitas em vista do sentido vazio com que se revestiam. Pensar é uma atividade que precisa ser domada como a um potro selvagem – caso contrário a expressão não ganha vida ou será uma visão distorcida e difícil de tragar. Aos olhos que dançarem e se embebedarem das palavras aqui derramadas sem cuidado cabe um pedido de tolerância para não dizer compaixão. Não há sofrimentos latentes ou impactantes, apenas um vazio ocasional que se procura preencher com letras dissonantes e carentes de qualquer enredo. O medo existe. Um medo atroz de deixar o tempo correr inutilmente. Mas eu não corro atrás e lanço as idéias sem sentido no papel que não é papel… Então eu vou calando os meus ruídos e silenciando os meus sentidos desiguais até que a fome e a sede se acalmem no acalanto dessa noite que mal se inicia. Os braços ficam vazios de aconchego e os cabelos não terão qualquer chamego até o sol raiar e finalmente o sono chegar permitindo o seu vulto adentrar pela porta dos meus sonhos só pra dizer bom dia…
mundo jovem
Não há como deixar de amar a juventude. A vida é um processo que costuma ser longo e demorado e com o passar do tempo vamos aprendendo a rastrear os melhores caminhos, corrigir as metas e ajustar a perspectiva e o foco. E é muito belo assistir serenamente uma performance vital se desenvolvendo ao nosso lado. Bonito como ver um rio que acomoda seu leito às sinuosidades do terreno e com leveza busca os melhores traçados para desaguar no oceano. É inspirador assistir a juventude em seu processo suave de maturidade e também é oportuno aproximar-se oferecendo algum saber e solidariedade em seus momentos mais íngremes.
Tenho muita juventude ao meu redor porque adoro me rodear de gente nova – ainda que alguns sejam anciãos em contínua renovação. O lampejo e o vigor de mocidade que vejo nas pessoas revigora em mim as reservas remanescentes de juventude que assim nunca de todo se esgotam.
E o mundo fica melhor quando rejuvenesce…
tédios
a cada mal um remédio
com a exceção do tédio
cujo conserto é difícil
ele adora tardes quentes
as noites longas sombrias
e os dias de chuva fina
tem também um outro tédio
que nada tem com o clima
mas apenas cai por cima
judiando pra valer…
dividendos
Eu estava aqui pensando – (como se fizesse outra coisa…)
Só dá pra garantir o agora porque ontem já passou e amanhã ainda não chegou… Isso é tão óbvio que a gente se esquece e acaba passando a vida inteira refém do passado ou do futuro, esquecendo de viver o único momento possível para as escolhas reais, o hoje. Claro que as experiências acumuladas e a perspectiva de futuro são nossos maiores motivadores e interferem diretamente no presente, mas – insisto – o único momento de fazer acontecer é agora.
É preciso planejar os passos, tão meticulosamente quanto possível, mas também é preciso que os passos planejados para hoje aconteçam. É muito comum que protelemos as coisas que devíamos fazer agora, já, nesse minuto. Às vezes, depois é tarde demais…
Para a minha vida tenho algumas regrinhas especiais que me ajudam no caminho e que menciono a seguir, sem qualquer ordem de prioridade:
1. Viver bem o agora.
2. Nunca jamais em tempo algum gastar mais do que ganho.
3. Antecipar as tarefas difíceis e só depois fazer as mais fáceis.
4. Não me estressar com bobagens.
5. Cumprimentar cordialmente as pessoas, nem que seja sem vontade… Isso pode fazer a diferença entre um bom e um mau dia.
6. Sorrir, que não custa nada…
7. Evitar cara feia que, além de tudo, causa marcas de expressão e envelhece…
8. Repelir o mau humor, um chato que adora se encastelar na mente das pessoas.
9. Ter paciência comigo mesmo que ninguém é de ferro.
10. Me amar e valorizar o que sou e faço e assim nunca poder dizer: ninguém me ama…
11. Chorar de raiva, de mágoa ou se a saudade ou a tristeza tomar conta, mas depois, levantar a cabeça, dar a volta por cima e sorrir de novo… Afinal, não dá pra ser criança o tempo todo!
12. Acreditar na vida, nas pessoas e, principalmente, em Deus e em mim mesmo.
13. Também adoto a regrinha de ouro de não fazer aos outros o que não gostaria que me fizessem.
14. Respeitar cada pessoa e os seus limites, por mais esquisitos que pareçam.
15. Não levar tudo a ferro e fogo e nem levar tudo tão a sério na vida, nem a mim mesmo ou aos demais – uma galhofa de vez em quando faz bem e desopila o fígado. Como já diziam os antigos, rir ainda é o melhor remédio!
16. Chutar o balde uma vez ou outra para que as pessoas não descubram que sou uma lesma…
17. Cultivar as três instâncias do ser: espírito, mente e corpo, integrando-as e valorizando cada uma delas e o conjunto que formam e que costumo chamar de “eu”.
18. Ficar completamente à toa quando estiver de saco cheio de trabalhar, estudar ou aturar as pessoas. Mas só quando ficar cansado e de saco cheio mesmo, porque ficar à toa também cansa.
19. Ter um hobby qualquer, uma coisa aparentemente sem sentido para o mundo, mas que me preencha e satisfaça.
20. Nunca fazer o que me desagrada para agradar os outros. Fazer sempre o que é bom, o que é certo ou o que eu estiver a fim, claro, com o cuidado de não prejudicar ninguém…
Além de algumas outras que não me ocorrem agora, estas regrinhas básicas tem me ajudado muito a deixar de ser a pessoa mesquinha, pessimista e negativa que já fui, para me tornar alguém de convívio mais agradável, menos desorganizado e mais afetivamente equilibrado.
E isso não deixa de assinalar que a passagem dos anos também pode trazer alguns dividendos da maturidade!
muitas vezes
cultivo a alegria
nas tardes quentes
prenunciando bom tempo
e insisto em romper
os grilhões da nostalgia
que ainda me ronda
e me envolve quando em vez
mas aqui quem dá as cartas
é um otimismo deliberado
impresso feito tatuagem
no reverso da minha tez
no mais é ter coragem
e perdoar minhas bobagens
de novo de novo de novo
e então seguir viagem
ao amanhã que vai ser hoje
uma vez, de novo e outra vez…
calendário
a tarde segue abafada de calor
propícia a revelações piegas
falar de abraços mornos
e olhar o céu de nuvens
advinhando desenhos caprichosos
corações partidos, pássaros feridos
ou a rosa rubra recém desabrochada…
janeiro é um tempo meio estranho
cheio de preguiças e tantos planos
chuvas torrenciais e mil relâmpagos
depois do sol incômodo escaldante
nesta soma tediosa dos instantes
que ora passam lentos ora velozes
mas kronos insensível não dá tréguas
para as antigas emoções decantar
deglutindo os surtos de melancolia
do calendário que não pára de girar…
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