O bem estava ali adormecido enquanto o mal rondava sorrateiro. Quem nunca viu o sorriso dissimulado do mal atire a primeira pedra… Ao abrir a porta sem perceber que o seu assédio se instalava eu ainda não me dera conta da situação. Adentrou fantasiado e foi preciso algum tempo para reconhecê-lo. Abriu um alforje envelhecido e começou a tirar algumas de suas tralhas: um ressentimento antigo e fosco, uma dose de mau humor, algumas mentiras deslavadas envoltas em meias-verdades e falsos escrúpulos. Comecei a rir daquelas coisas e deixei-me ludibriar. Para ser sincero senti algum prazer – mórbido prazer. Mencionou pessoas que eu amava e me mostrou defeitos que eu já conhecia. Mas foi tão convincente em seus argumentos que me pareceram verdadeiros monstros por aquela análise. Então aquela atitude foi premeditada?! Não, não foi apenas premeditada. Foi preparada, ensaiada e totalmente eficaz – veja o seu deprimente estado atual. E como eu não tinha percebido isso tudo antes? Foi pura ingenuidade, meu caro… santa ingenuidade! Havia muita ironia nesta última frase e para o meu bem – que resolveu despertar ao som da palavra santa proferida por lábios tão cruéis – desfiz-me do engano e repeli o intruso que tentava plantar em mim a cizânia da discórdia. Não, definitivamente, novamente vigilante eu pensei: não sou do mal, eu sou do bem!
arquivos do mes de outubro, 2005
chuvas
procuro alguma fonte dos versos
perscruto no horizonte fugidio
escuto o canto manso de uma brisa
talvez estejam nos pássaros em revoada
mas amanhã quero acordar bem cedo
quem sabe encontre pela madrugada
absoluta mesmo é a mediocridade
rodeia pusilânime as minhas falas
engole o brilho dos pensares
não sei o que falo
devo calar-me porque a tarde avança
e a noite surge roubando a luz do dia
eu sei – só não compreendo plenamente
os ciclos se sucedem
já me vi em fase de sorrisos
chorei múltiplas lágrimas – saudades
também de dores escondidas
festas não pontificam minha vida
gosto de celebrar a discreção
os trens são conjuntos de vagões
e cada um carrega universos
dos quais eu sou apenas um
acho que amanhã fará calor
cansei deste chover dentro de mim…
idéias frouxas
o passo não pensado
machuca a erva verde do caminho
desarvorado tem a roupa em desalinho
de sua mente brotam ditos
palavras estranhas, sons esquisitos
nenhum compromisso
ressoa insano, profeta do profano
já abdicou das metas
vendeu o bem que possuia
uma lambreta
vagou de bicicleta
e adentrou o canto escuro da adega
sorveu o doce dos licores
imita o beija-flor
tentou o vôo e soçobrou
restou o seu sorriso estampado
tudo mais é forjado
vazio num esgar de dor
abriu suas comportas
e anda em uivos pela praia
não incomoda mais ninguém
e ninguém se incomoda
é o idiota
o tolo apalermado
mas quem olhar seus olhos
fitando o esconderijo de sua alma
encontra os porquês de sua calma
é pássaro ferido
mas anestesiado
buscando os seus sentidos
talvez os tenha encontrado
quem poderá saber?!…
tia Amélia (* 07/07/1937 *)
na constelação do bem querer
uma estrela de brilho intenso
nas principais memórias felizes
marcou com sua presença
e me ensinou tantas coisas
desde o velar-me no berço
tantos anos se passaram
meus cabelos se alvejaram
quando balbuciei as primeiras palavras
me conduzias nos primeiros passos
da casa onde me viu mal cuidado
carregou-me em zelo e afeto
ah… nossas histórias se misturam
sua lembrança é um rio de saudade
e o seu legado um oceano de ternura
várias vezes disse em vida
e ao te tornares eterna
com emoção eu repito
que te amo tia Amélia
tia Amélia (+ 11/10/2005 +)
lugares
tenho muitos lugares
alguns são reais
outros são imaginários
mas eles sempre estão
na mente, no corpo e na alma
lugares dentro e fora de mim
me fecho num lugar aberto
e enclausurado recebo os raios solares
de repente chega a noite
e me recolho num lugar fechado
para abrir as reservas dos sentidos
toco o céu de estrelas escondido
e lavo a minha alma
sentindo odores desta calma
vejo tudo claro na escuridão
sorvo um trago saboroso dos delírios
e escuto os sons do recomeço
remexo o meu avesso
e cresço rumo ao infinito
achando tão bonito
os detalhes, as minúcias e o segredos
do que há de mais prosaico na vida
e sei que ali é o meu lugar
vida bela (3)
o que surge do nada
acaba voltando para lá
mas às vezes nos arrasta
em seu retorno marginal
o concreto de todo dia
que nos agride os olhos
e faz romper os diques
transborda os mananciais da alma
após amores, humores e lágrimas
estampe-se um tímido sorriso
e o que mais for preciso
para o sol brilhar
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