Há dias perfeitos. Há os nem tanto. E existem dias horríveis. O consolo é saber que ao menos nas minhas toscas estatísticas, este último tipo de dia, graças a Deus, figura como exceção. A segunda foi assim, mas já passou.
Então eu abro e fecho os parênteses deste dia, viro a página e fico olhando serenado as folhas virgens do bloco de notas sobre a minha mesa…
arquivos do mes de fevereiro, 2006
parênteses
conselhos de graça ou a graça dos conselhos
Não seja a tua juventude um ópio que te sorva, para que a maturidade não te seja amarga. Apesar da vida parecer um buraco negro sugando o brilho e as estrelas, ninguém está fadado a ser anulado, exceto se fizer essa escolha e anular-se voluntariamente a si mesmo. O universo é infinito e cada pessoa é um traço aparentemente nulo na estatística da humanidade. Quanta gente já viveu até o presente, quantos bilhões de seres humanos já habitaram este planeta. Em minha carne há fragmentos da carne de muitos que já me precederam na existência. Somos todos frutos do carbono que se recicla indefinidamente. Isso não faz de mim menos do que já sou. Sou nada. Mas é tudo o que sou. Avaliar-se estatisticamente seria algo frustrante e deprimente. Mas quando se pensa na pessoa, no universo que cada um representa, então alçamos o infinito. Porque se o universo é infinitamente grande – a pessoa é maior que o universo, porque todo o universo cabe na emoção, no pensamento, na alma de cada pessoa. Então o nada absorve o tudo e com ele se confunde. Há traços brilhantes do universo em cada ser, o infinito habita cada pessoa. A relatividade do ser se decompõe diante do absoluto do existir. E ao fim, depois de tanto pensar e refletir, há que se concordar. É tudo tão grandioso que somente um Deus pode explicar as razões do existir. E se um Deus explica, porque desesperar, porque se embriagar de um absinto depressivo, porque amargar uma vida derrotada se ninguém existe antes de experimentar a vitória da conquista do espaço de viver. Milhares tentaram e só um conseguiu imergir e fundir-se à semente que o gerou. Explodiu assim em vida que ainda não murchou. E quando murcha é lançada à terra para que germine em eternidade. Levante, pois, a tua fronte. Ouse passos nunca dados, perceba o sol em seu lume e calor. O deserto contém alguns oásis, a dor encontra o seu linimento e a vida existe para desabrochar e florir até mesmo nas terras mais áridas. A pessoa é um dom. Um dom para si mesma e um dom para todas as demais vidas ao redor. Viva a vida, faça o melhor e deixe viver!…
(PS. este post é um desdobramento de um comentário que deixei num flog que visitei hoje – inteligente mas down demais para a idade do autor.)
Pulsões
O pensamento se aliena de mim e vai fugindo sorrateiro. Tento alcançá-lo infrutiferamente e me canso. Às vezes sinto uma sensação de ocaso e em outras um entusiamo juvenil parece estender a dimensão da vida além dos muitos anos que já ostento. Tenho percalços infantis que ainda não compreendo. A vida me parece tão simples e deve ser por isso que é complicado demais entendê-la. Uma criança não abriga questões filosóficas não resolvidas. A criança quer alguma coisa e luta para obtê-la. Chora, seduz, esperneia. A criança quase sempre consegue o seu objetivo. Quando não, ela muda o rumo dos desejos e secando a lágrima da frustração recente, já quer algo diferente. Acho que na infância se vive um dia de cada vez. Eu quero e quero muito e quero tantas coisas e, a bem da verdade, se alguém me perguntar agora eu não saberia dizer o que… Porque são tão variados os meus desejos. Tenho desejos espirituais e tenho desejos carnais e como conseguem ser carnais alguns desejos. Reflito o conflito e ajusto os desajustes. Uma coisa é certa: quase sempre caminho sereno, mas se derrapo e caio – o jeito é dar a volta por cima, me levantar e seguir vivendo!…
perspectiva infinita
pois bem
há um tempo para tudo
então pára tudo
que eu quero embarcar
e retomar a rotina
nesta grande viagem
que a vida nos dá
sou místico
e transporto em mim
centelhas do divino
sagrado e consagrado
não carrego um fardo
não lamento a cruz ou o clima
pois aqui tudo termina
quando o eterno começar
(sob o efeito de um congresso Nacional de Ministérios da RCC em Aparecida)
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