H@ vida depois dos 60

…com pensamento, opinião e poesia em doses homeopáticas…

30 ANOS

           Me preparando pra esse dia ensolarado eu, de repente, olhei no espelho e vi uma criança já crescida. E li por trás do seu sorriso o risco iminente de cair um turbilhão de lágrimas contidas. Imagens se sucederam freneticamente nas lembranças desse tempo já vivido, e um balanço foi se desenhando com os números pulsantes de uma vida. Vislumbrei o rosto jovem dos meus pais de quando eu ainda engatinhava e recordei a pura alegria dos meus irmãos da infância feliz que eu ainda não sabia. Revi o encanto das brincadeiras da minha meninice e as monumentais algazarras entre os amigos da rua e dos tempos de escola. Recordei depois o meu olhar furtivo em busca das primeiras aventuras, os olhares trocados, os toques de mão, o primeiro beijo escondido e roubado e os arroubos daquelas sensações desconhecidas – quase um meu nirvana juvenil. Tanta efervescência, muitas lembranças e tantos grilos povoando a adolescência. Alguns e algumas trago camufladas até aqui… Mas o que seria da vida sem os encontros – sem os desencontros?! Confesso que cresci. E fiz os pactos dos amores que foram infinitos pelo tempo que duraram. Vi que era bonito amar assim e elaborei milhões de planos. E fiz mil coisas nestes dias de ventura. Eu quase me perdi. A vida foi abrindo as suas caixinhas de surpresas – boas, más, – algumas foram de extasiar e outras quase me mataram. Ganhei, perdi. Fui sorteado com uma fonte de sorrisos e acho que por isso não aprendi chorar. E distribuo risos com fartura fazendo o que é possível pra não ter choro à minha volta. Algumas vezes fracassei nessa empreitada e não consegui deter as lágrimas – eu mesmo fui varrido por elas, especialmente quando uma noite traiçoeira açoitou minha família e nos roubou o que havia de maior brilho. Uma jóia rara: irmão, amigo, filho… Mas fiquei sabendo por intermédio das estrelas que entre elas ele foi se instalar – Deus viu que para uma gema tão preciosa – estar ao lado Seu, no céu – era o melhor lugar. Agora é um anjo protetor – com nome de irmão – e ilumina a nossa casa com o seu olhar, o seu cuidado e o seu jeito amoroso de nos acompanhar. E ele nos diz que a vida deve continuar, que o tempo não para e nem pode parar…
&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp No lugar dos amores transitórios da juventude a vida me presenteou com o amor que veio pra ficar. E foi tanta doçura no saciar a fome dos meus beijos e abraços… Fincado em terra firme enfrentei e enfrentamos as ventanias, as chuvas torrenciais da vida, os medos, as tristezas, os conflitos naturais. Os que não venci sozinho, vencemos juntos – os que perdi, juntos não perdemos. E o amor não demora, no tempo certo traz os frutos da espera. E uma barriga se enfeitou de vida para embalar o fruto desse nosso amor. Quando me dei conta da paternidade que assumia – ah nesse dia eu chorei – chorei de alegria, chorei de espanto, chorei de encanto, chorei de amor… E tudo isso no meio do meu maior sorriso e se daqui pra frente em algum momento eu não sorrir, não é preciso – pois trago no meu ninho, nos meus braços de pai – um sorriso que veio do céu para inundar de alegria a nossa vida, um presente de Deus que nos faz a vida celebrar.
&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp&nbsp E agora, o que será do amanhã?! Não sei… Mas sei que Deus está comigo e tem me carregado nos momentos de agonia e dor. E o sorriso da proteção divina jamais deixará de nos acompanhar – por isso quero celebrar com meus amigos, minha família, minha mulher – metade preciosa de mim, e a minha filha. Quero sorrir com todos e, se eu chorar, que seja de alegria, que seja de amor que tanto eu tenho recebido e tanto eu tenho para dar.

(Ps.: homenagem ao primo Adriano no seu 30º aniversário.)

pensado por Tarciso comente    

garoa

chove com insistência
num derrame de gotas modorrentas
e as folhas molhadas
espargem brilhos ao redor
todos os sentidos preguiçosos
trabalham à meia luz
cheiros, sons e paladares
brotam da terra em cio
fazendo um torpor vazio
aquietar meus sinais…

pensado por Tarciso comente    

parada

quem dera parasse o tempo
ao menos uma era inteira
e a gente então parisse
as correções das besteiras
e depois tudo prosseguisse
como se nada havido…

pensado por Tarciso comente    

riso cristalino

se não houvesse um fosso
e a força insone do fracasso
em que trôpego tropeço no teu laço
e me desfaço em lamúrias cordiais
a despertar o teu sorriso iluminado
ao que me esqueço do começo
e baila a mente à doce melodia
do teu riso matinal…

pensado por Tarciso comente    

2009 boas promessas

Os meticulosos encontram a beleza escondida nas pequenas coisas, já os desleixados não enxergam sequer a beleza do universo. Há quem seja tão detalhista ao ponto de se perder nos detalhes e há os tão universalistas que não enxergam com definição nada que lhes esteja a um palmo do nariz. Há gente de todo jeito. Há pessoas como eu e você e todos nós temos algo de bom a oferecer. Muitos fecham as mãos e o coração e ficam como que petrificados em si mesmos. Felizes daqueles que conseguem se desprender dessa armadilha egoísta e fazem a mesma reviravolta da lagarta liberta do casulo ganhando cores e asas de borboleta prontas para alçar os mais belos vôos. A vida tem nuances e reveses, tem vitórias e fracassos. Sem altos e baixos a comemorar e lamentar não se constrói uma história, não se desenham superações. Todos temos lições a dar e a receber e a maior delas em todos os sentidos é a humildade – no fundo, no fundo, nenhum de nós é nada sem os outros ao nosso lado. Mas de tudo o que existiu e existirá o que há de maior é o amor, e o mais excelso é amar o amor, amar sem temor, espalhar prodigamente o amor porque amar é viver…

pensado por Tarciso comente    

estopim em chamas

qualquer que seja o desfecho
não nos faltem apetrechos
em cantos de sobreviver
que a hora seja lânguida
e a mente seja cândida
ao corpo desfalecer
num mergulho infinito
naquele lugar bonito
de sonhos e fantasias
seja no fim do ano
seja no fim de tudo
se locuplete a memória
num louco piscar de olhos
estopim do provisório
chama do eterno ser

pensado por Tarciso comente    

adeliana

a mãe foi trabalhar
e nunca que voltava
um dia
um mês
a eternidade
só olhando a serra verde
esperava esperava
naquelas tardes de chuva
eu morria de saudades…

pensado por Tarciso comente    

Vó Iolanda (*10/11/1907 +16/11/2008)


Ela completou 101 anos no último dia 10 e seis dias depois foi-se embora pra fazer festa do lado de lá. Foi uma referência em minha vida e pensar na vó Iolanda é adentrar em lembranças de sorriso, alegria e celebração da vida. Por isso, não é um momento de lamentação o que a família vive – ela não aprovaria isso – é um momento de gratidão a Deus por nos ter dado essa jóia preciosa para estar conosco por tanto tempo. Ela sorriu vida afora, agora sorri na eternidade, e nós que aqui ficamos sorriremos de saudade…

pensado por Tarciso comente    

bosques da alma

divagam memórias em suave brisa
permeando enredos com suas ondas calmas
quantos se foram e jamais voltaram
talvez nos aguardem sem ansiedades
mas oh que saudades
das vozes, sorrisos
fisionomias meigas
marcadas, contidas
retratos da vida
nos bosques da alma…

pensado por Tarciso comente    

O que é bom, de verdade.

Palavras quase sempre são pronunciadas ao desejo de concretizar o abstrato ou de abstrair o concreto. As palavras que merecem ser ouvidas realmente fazem isso. As outras soam como ruídos inexpressivos e não se deve perder tempo em decifrá-las. Quando amamos escolhemos as palavras para acariciar a pessoa amada, quando odiamos desferimos as palavras feito setas tentando cravá-las no peito da pessoa alvo de nossa agressividade. Tais palavras assim desferidas geralmente ricocheteiam e voltam virulentas causando em nós mesmos as piores feridas. Não vale a pena o sentimento que as gera, não valem a pena palavras desta forma desferidas. Um bom conselho é cuidar-se, curar-se das feridas e esquecer, sem ódio, as pessoas que procuram transtornar a nossa vida… Só amar, verdadeiramente, vale a pena.

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