do acontecimento
eliminando as espumas
sobra o fato
sem interpretações
retrato de um momento
que se desdobra
quase ao infinito
medito por acaso
em dois meros gametas
por linhas do destino
ou traços do divino
um dia se fundiram
depois de certo tempo
quem sabe o que virá
naquele novo ser
que se anuncia
em tímidos vagidos
como a dizer
ainda sem saber
o alguém
que ele será
começo
a fala do silêncio
Quem sou, de onde vim, para onde vou?!
Estas questões ocupam a mente do ser humano desde o dia que ele se dá conta de ser até o dia em que perde a conta e parte para o seu destino além. São perguntas imbricadas entre si e suas respostas determinam a conduta e as escolhas mestras na vida da pessoa.
É verdade que a intensidade de uma tal preocupação varia muito de pessoa para pessoa e algumas apenas a consideram de forma rara e ocasional. Outras, no entanto, a tem por obsessão e dela não se afastam a não ser naquele dia em que tudo se exaure e ela mergulha no eterno fora do tempo. Ali se defrontará com a sua resposta quer esta seja plena de eloqüência, quer tudo se resuma num grande silêncio.
A Palavra?!… Ou o Silêncio?!…
Concebo honestamente a vida como palavra que ressoa ad aeternam mesmo ao risco de ao fim ser envolvido por uma quietude inamovível e sem fim… Como Pascal, experimentarei o deleite infinito a prevalecer o que concebo ou mergulharei no nada insensível se houver só o silêncio como resposta…
nonsense
nem tudo o que parece
merece aparecer
desvelado sobre os ombros
ou sob os escombros
do viver
quem sou?!
aonde vou?!
porque porque porque?!
perguntas prolongadas
e respostas vãs
deitado ao divã confesso
as neuras e as nóias
as canduras inocentes
do meu interior demente
massacrante
impenitente
nestes tempos de deserto
tudo longe
tudo perto
do nonsense
do não ser
decolagem (breve conto)
O olhar embaçado e a visão turva. O tempo se arrastava lentamente e as luzes brancas do teto lhe eram desconfortáveis. Vultos alvos deslizavam pelos corredores e vozes estranhas ressoavam. Aonde estaria?! Sentiu um leve solavanco e percebeu que se movia, ou melhor, que o moviam provavelmente sobre uma maca. Pareceu-lhe estar num hospital. Mas não tinha nenhuma lembrança de qualquer acontecimento que justificasse sua presença em um hospital – nem mesmo alguma dor ou sensação de sofrimento. O movimento vai diminuindo, diminuindo suavemente e agora há uma grande luz diretamente sobre sua cabeça. Uma enorme lua branca em hallos suaves. Sente-se como que ampliando-se e ao mesmo tempo se tornando leve, leve… Mais vultos se aceleram à sua volta e ouve vozes agitadas. Parece que lhe colocam uma máscara e um frescor intenso invade seus pulmões. Sente-se flutuando… flutuando, flutuando… Parece que chegara a sua hora de voar.
morno luar
o que mais gosto da rotina
é retomá-la após as fugas em nuances
à permissão aos fogos fátuos de loucuras
morder e devorar pequenas gostosuras
e me lamber no pódio
sob os holofotes
deitar e deleitar na relva
à luz do teu olhar
precisa seta que invade
minha meta
fonte de delírios
frente ao marasmo do meu dia-a-dia
a rendição do gozo em fantasia
e se refulge em brilhos
no encaixe destes trilhos
caminho percorrido
desnudo e seduzido
teu corpo morno enluarado
pantera que me tem
me enrosca, encilha
e tanto me faz bem
elogio da rotina
rejeito as surpresas
os sustos e sobressaltos
sou adepto da rotina
que não precisa ser de tédio
cansaço e covardia
ela pode ser segura
e pode ser serena e tranquila
pois ela tece o fio da vida
e nos permite
conhecer o antes
o durante
e algo do depois
permite a previsão
dos planos e contratos
os negócios concretos
e os abstratos
na boa rotina que criamos
a gente sempre
sabe o que vem
o que pode
o que faz…
andarilhando
um apito agoniante
e o farol soturno
não assustam o andarilho
nem mesmo o freio que lancina
ele segue olhando
a luz à esmo
sem ressalvas
a visão se ofusca
pela intensa claridade
se dá por inteiro
na soma das metades
dos seus devaneios
de cegueira e insanidade
irrompem enxurradas de questões
sobre o ser
o ente
o seu fim de madrugada
pensante vagabundo
descarrilhado nos dormentes
na derrocada investida
que o arremete ao nada…
fagulhas vãs
o começo é fácil
difícil é terminar
e quando termina
é complicado recomeçar
então o melhor
é manter a essência inalterada
fazendo as alterações mínimas
imperceptíveis aos olhos
só depois de algum tempo
de muito tempo, aliás
a mudança é real
mas não foi percebida
apenas quando a gente olha
uma foto antiga
uma carta esmaecida
se percebe
na água-com-açúcar de agora
o encorpado vinho de outrora
no mais se devem
evitar as redundâncias
e as inconveniências
além das militâncias
e os patrulhamentos
porque não há nada mais chato
que aquele cara que sempre sabe
o que é devido
e o que não é
com seu crivo cínico
e o seu olho clínico
sempre a reprovar
otário!…
dúvidas
processo
a vida elaborada
e o resultado
é a dúvida desarmada
aonde
quando
e porque
projeto
a mente disparada
e o resultado
é a dúvida assombrada
eu sou
e tenho
o que…
proponho
a fase restaurada
e o resultado
é a dúvida entranhada
o certo
o errado
e o ser?!…
perspectiva
recomeçou quase desde o princípio
o que havia pausado
a trégua terminou
e a régua aterrisou
excluindo os descaminhos
o que lhe vem à cachola
de voltar maduro à escola
para a vida estudar?!
não sabe
permanece a dúvida
redobrada em tensão
em todo o caso
de todo modo
o tempo soberano
desenrolando o plano
respostas lhe dirá…
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