Estou aqui ouvindo ao fundo o som do mar.
O calor não incomoda porque uma brisa insinuante me distrai.
Penso como a vida é simples quando não a complicamos
Há muito de efêmero na existência, mas há circunstâncias que se
repetem e nos trazem uma sensação de bem estar e segurança.
O lar, o folguedo das crianças, a alegria que nos envolve
em cada reveillon.
Tem sido assim…
Uma vida pacata e simples
Às vezes um sobressalto, lágrimas por vidas que nos deixam de repente,
pessoas amadas tragadas pela eternidade.
Mas não nos podemos abater além da medida – porque é esse o nosso destino.
A fé nos consola, nos sustenta e nos permite seguir avante.
Eu gosto de viver – mas não me incomoda em excesso a certeza de que um dia
irei morrer…
Uma mudança de ano é apenas uma convenção – mas sempre nos ajuda
a refletir sobre a vida, sua beleza, sua transitoriedade e sua condição
de trampolim para a eternidade…
Feliz Ano Bom, Feliz 2006!!!
arquivos do mes de dezembro, 2005
Reveillon
pavores noturnos
tenho medos
do escuro e seus fantasmas
das dores e dos cataplasmas
das matronas impiedosas
e padrastos pervertidos
tenho medo do menino
assustado que há em mim
pois sempre arrisca vir e me levar
para o seu mundo
que é meu mundo no passado
e padecer de novo
os terrores noturnos
e pesadelos infindáveis
dos corpos pálidos em caixões
o aroma pestilento da morte
espreitando sem ternura
nas dobras do tempo
com olhos de serpente
a enredar alguma vítima inocente
propensa a solapar seus sonhos
a sorte é o sol raiando no horizonte
que a espanta e faz correr
até que venham novas sombras
ressuscitando o velho medo de morrer
em silêncio
O que pode haver no silêncio?! Tantas coisas o habitam… Não apenas uma ausência de palavras. A doçura silencia, o amargor silencia – tudo pode silenciar quando o silêncio falar das flores e das cores e dos amores – mas o silêncio também pode se calar para dizer que alguém é muito importante mesmo quando isto não esteja sendo verbalizado. Aí também o silêncio pode falar… Hoje, – bem no meio do silêncio, – sinto falta de uma voz!…
Natal

Estou desperto após o almoço de natal. Nada de álcool e nem excessos gordurosos. Foi um almoço trivial – na verdade, nem parecia uma ocasião especial. Mas é. Segundo o modo da fé, hoje celebramos um aniversário incomum. Há 2005 anos atrás, nascia um menino para mudar os rumos da história. Queiramos ou não, mede-se o tempo no ocidente com a referência AC-DC. Passei longos anos da minha vida negando a fé dos meus pais, mas sempre teve algo guardado em mim que um dia viria à tona. Tentei ser ateu e disse muitas vezes que era um. Mas acho que nunca cheguei a sê-lo realmente. Levantava os olhos para o céu e me imaginava viajando infinitamente sem poder chegar a uma barreira final. E se chegasse – ainda assim teria que haver algo além desta barreira. Essa impossibilidade de compreender a ausência de limites foi o ingrediente que me fez reconsiderar a fé dos meus pais. Ela fazia sentido. Alguém teria que ter concebido e realizado tudo o que há – inclusive a mim mesmo. Penso em minha história, penso em minha pessoa. Não concebo um dissolver em nada ao morrer. Creio que tudo continua de um novo jeito. E esse é o jeito cristão de ser. Por isso celebro o Natal, por isso creio na encarnação de Jesus Cristo – Deus humanado. Por isso posso me sentir feliz. Por difíceis que as coisas sejam – toda dor um dia terá fim e a felicidade plena se gozará no céu e tomo desde já por base a felicidade que aprendi – a partir dessa fé – a viver já – desde aqui!… Feliz Natal pra você – quer você acredite ou não!
letargia

ao sol dourar no horizonte
saboreie com o olhar
o gosto bom da pele macia
e sinta com o paladar
a tepidez de um corpo desnudado
entreteça todos os sentidos
e deixe rolar qualquer gemido
nenhuma dor
só um prazer enternecido
depois é só desfalecer
dormir um sonho descuidado
só acordar pela manhã
vencendo a inconsequência e a preguiça
abrir os olhos lentamente e sorrir…
papai noel existe…
há que buscar na fantasia
o encantamento que se esconde
pois o concreto se desfaz em pó
poeira fina que machuca olhos
no apático mundo real fora de si
o olhar percorre sinuosas poesias
e os fonemas abstratos ganham vida
lubrificando a aridez que se entranha
neste universo paralelo força estranha
fazendo mergulhar o ser em si
se ouvem neste canto as melodias
isentas dos acordes dissonantes
vibrando incessantes mundo afora
o tédio dos minutos formam horas
que adormecem sonhos infantis
lá dentro muitas renas enfeitadas
puxando seus trenós imaginários
trazem presentes esquecidos no passado
deslumbram a criança que há em mim
e recuperam os natais que esqueci
repartições biológicas
pontos múltiplos discretos
dividindo a pele
e juntando-as novamente
em linha indelével
nada foi retirado
nada foi incluído
apenas um reparo executado
por hábil manipulação
e enfim aquela sutura
meticulosamente tecida
convalesço
obedeço
e regresso ao lar
e à rotina
tudo bem…
viagens digitais
Combinei com todos os meus dedos – pois sou um polidigital, – vou liberá-los e deixar que conduzam meus pensamentos neste teclado liberal, ma non troppo. Dei uma pausa para respirar e os meus dedos foram tomando conta das frases e formando-as gentilmente. Muitas palavras se sucediam e talvez o sentido lhes faltasse. Mas o que importa? Que cada leitor encontre o seu próprio sentido escondido nas palavras. Isso ao menos foi o que disseram meus dedos recém libertados. Não havia pressa mas também não havia a necessidade de ruminar em pensamentos demorados. Simplesmente deixar que surgissem sentenças com ou sem qualquer significado. O que isso poderia significar? Olho demoradamente para os meus dedos mas em cada unha apenas vejo um sinal de interrogação ao lado da exclamação. Profiro um emblemático ahhhh… e continuo deixando livres meus digitais quase insensatos. Paro por um momento porque meu couro cabeludo começa a coçar e os dedos se ocupam em fazer essa tarefa despojada – a diferença é que agora percebo o quão importante é ter dedos, principalmente quando se tem coceiras. Olho ao longe pela janela entreaberta e percebo que o tempo hoje está tão nublado… que diferença faz para quem está dentro de casa, no conforto do próprio lar? Meus dedos tem nuances próprias e não parecem dispostos a me deixar filosofar. Então percebo uma guinada em seus movimentos e uma busca diferente de grafar sentenças que voam para outras direções nunca antes imaginadas. De repente era como se eu sobrevoasse uma praia deserta do nordeste, povoada apenas de muitas palmeiras frondosas e de folhagens balouçantes ao impulso de uma brisa ligeira. O mar não muito agitado espumava nas areias e haviam passos recentes estampados no solo arenoso e molhado. Um novo corte. Meus dedos me pareciam pouco confortáveis com o rumo da conversa. Não, não era nada disso. Eles queriam navegar mar adentro e dispensar a visão bucólica da praia desabitada. Embarcamos num pequeno barco à deriva e avançamos para águas mais profundas, mais e mais. Baleias e golfinhos brincavam ao redor e aumentava gradativamente o fragor das ondas na medida que avançávamos para o alto mar. Navegar pode ser um exercício cansativo e por isso começamos a desejar a aproximação de terra firme. Talvez viesse a calhar uma pacífica ilha no atlântico, ou uma atlântica ilha no pacífico. Um solavanco no barco revelou um banco de areia e ali ficamos encalhados por algum tempo. A maré vazante nos deixou em terra firme e desembarcamos. Eu e meus dedos na viagem desta fantasia. Alguém falou em voz alta ao meu lado. Puxa, será que dá pra você liberar esse computador?! Pai, você parece criança! Preciso terminar o meu trabalho da escola, poxa!…
frutos de época
Nessa época do ano, por onde quer que andemos só enxergamos nozes e avelãs. Nossa imaginação vagueia entre os tenders, perus e chocolates. Um gatilho comercial provoca fase aguda de enfeites, bolas coloridas, árvores iluminadas e entranhas doloridas. Nessa época festiva do natal ressoam os sinos dentro da gente para acordar todas as nossas melancolias. Ressuscitam todas as saudades do que não aconteceu ou do que ainda pode acontecer. Essa época que antecede o intenso pipocar dos rojões de fim de ano, do champagne do reveillon e que se repete religiosamente a cada 12 meses. Nessa época somos obrigados a dizer boas festas mesmo que nosso interior esteja fechado para balanço. É uma época de sorrisos espontâneos ou forçados e bebedeiras improvisadas. A palavra mais ouvida é confraternização e a prática é de meros tilintares superficiais. Nessa época em que quase nada acontece, e tudo podia acontecer… Talvez. Se a gente se deixasse conduzir pelos melhores sonhos e se os nossos sonhos não pudessem adormecer.
Ainda assim, tem alguma coisa nessa época que nos mantém estimulados a continuar. Nos permitimos a oportunidade de começar de novo! Tudo termina e tudo começa sob intensos fogos de artifícios. Talvez por isso tudo soe artificial. Talvez por isso rolem tantas moedas às vésperas do Natal. Talvez por isso o Menino passe despercebido e permaneça um quase desconhecido.
Talvez por isso eu deseje tão ardentemente dizer no meu silêncio o que não pronuncio de forma leviana: Feliz Natal!
oceano
ao longe algumas nuvens
quisera içar âncoras
deixando o barco flutuar
mas não aprecio atalhos
caminho em certo ritual
um passo segue outro passo
avanço lento mas seguro
a melancolia não fez mal
arrisco um tímido sorriso
piso a areia tépida e molhada
tenho sede dos abraços
que se perderam no passado
e das encruzilhadas
tive que optar
o que teria sido
fossem outras as escolhas?!
isso nem importa
não dá pra voltar
fecho os olhos
abro os braços
abraço a brisa que vem do mar…
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