naqueles dias de medo
me disfarço em ousadia
fingindo não ter segredos
faço da noite o meu dia
Outro dia eu olhava pela janela descuidado quando, repentinamente, um inseto alado penetrou meu ouvido. Num reflexo estapeei-me produzindo um estampido. Ninguém ouviu, mas aqui dentro de mim, alguma coisa mudou… Eu mudei! Não dava, no entanto, pra filosofar com um corpo estranho e farfalhante se remexendo próximo aos meus tímpanos. Corri até a farmácia e mais com sinais do que com palavras apontei minha orelha direita enquanto gemia de medo e dor… Uma pinça e boa dose de paciência e o atendente retirou o incômodo corpo matado num pé-de-ouvido. Sorri como quem tivesse superado uma bobagem. Mas não. Era algo maior. Sobreveio a morte ao pensamento. Um estampido, um inseto – uma bala perdida, um gemido. O que teria sido de mim?! Olhei de novo pela janela… mas já não readquiri aquele olhar descuidado!…
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