O que eu mais admiro na lucidez é o universo de loucura que podemos alcançar através dela e sei que estou ficando – irremediavelmente – cada dia mais antigo. Na hora de apagar as velinhas podemos ter estranhos pensamentos, imagina então quando o seu número chega a 52. Na verdade nem faz tanta diferença, depois de um certo número – o próprio número só vale pela dezena. A centena dificilmente alguém alcança e se por acaso a alcançar tornar-se-á um ancião não mais do que qualquer criança. Até o pesadelo do próprio desaparecimento vai se tornando uma realidade em perspectiva e com o passar do tempo vai ficando mais plausível e menos assustador. Quem segurará, no fim, as alças do caixão? O que resta à carcaça inerte e fria se já não há mais riso e se não há mais dor?! E o que dizer da liberdade absoluta que então sobrevirá?! E quanto ao tempo presente, haverá um limite para a multiplicação das perguntas? Ou são sempre as mesmas, travestidas apenas as palavras?! Não tenho tantas respostas e a cada dia percebo a minha defasagem ao aumento inexorável das perguntas… Quanto mais penso saber alguma coisa, tanto mais constato que nada sei. O paradoxal é que isso mais me acalma que espanta, mas me deixa sereno que agitado, mais me faz descobrir-me que ocultar-me. Enquanto sentir o calor das chamas, enquanto souber contar as velas acesas e sopradas, enquanto houver vida e lucidez – continuarei içando e soprando as velas!!!
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