Quando virei aquela esquina no caminho de todo dia jamais podia imaginar quem viria em sentido contrário. Fui pego de supresa e fiquei absolutamente sem reação. Mais de sete anos sem notícias e embora seu semblante permanecesse nítido em minha mente, já não era uma lembrança assim tão frequente e eu até pensava que não exercia mais sobre mim seu antigo fascínio. Ledo engano pois ao vê-la minhas pernas bambearam, a voz sumiu na garganta e o chão pareceu faltar-me sob os pés. Ela nem pareceu notar-me apesar de em nenhum instante desviar de mim o seu olhar ou me evitar. Nos cruzamos sem palavras e cada um continuou o seu caminho. Não me pareceu nenhum pouco perturbada e arrastando aquele garotinho de cabelos encaracolados seguiu sem me dirigir palavra. Quanto a mim, emudecido de espanto e incapaz de articular qualquer grunhido, afundei numa sombria noite de lembranças e agora, quando me supunha inteiramente livre daquela obsessão, vi subitamente me envolverem de novo aquelas teias do passado. Feito um robô meus passos me levavam sem destino. Haverá um novo encontro? De quem seria o menino? Seus vivazes olhos infantis amendoados tinham algo dos meus. Meu Deus, seria possível?! Teria sido este o motivo do súbido desaparecimento e da sonegação sistemática de explicações e notícias? Ela sabia que eu não queria ter filhos tão cedo, mas… Virei o pescoço cento e oitenta graus propenso a correr e persegui-la, mas ela já desaparecera mergulhando novamente no nada de onde surgira, depois de seus passos decididos a terem feito dobrar a nossa esquina…
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