O tempo de Natal ressuscita em mim certas saudades e hoje estou sentindo a falta de alguém muito especial incrustrado no passado, alguém inesquecível. Dado que não disponho de meios para mudar o enredo desta história, permito que adormeça em mim esta lembrança. Foi tão bom o curto espaço de tempo em que estivemos próximos e por isso essa saudade rói de vez em quando ameaçando transbordar águas contidas. O mundo vira as páginas e as circunstâncias determinam os acontecimentos e as separações que entristecem. Sinto tanto a falta das conversas que não tinham fim e que invariavelmente terminavam num abraço caloroso. Resta um vazio daquela insubstituível amizade… Tomara que esteja e fique bem!
olhando ao redor

A possibilidade humana vai do finito ao infinito e nesse leque sem fim só é possível estar num único lugar a cada vez. Qual é a bola da vez? Onde está você nesse momento? Ocupa o mesmo espaço que seu corpo ou acaso se encontra a milhares de milhas daqui… Temos cuidados com as pessoas ao redor ou simplesmente a impaciência nos impede vê-las?! O mosaico de preciosidades no qual nos encontramos incrustrados merece o nosso olhar admirado ou fitamos obsessivamente apenas o nosso próprio umbigo? Tantos de nós vivemos reclamando de tudo e nos sentimos insaciáveis e desejosos de suprir nossos grandes e pequenos desejos. Egocentrismo. Tendemos a isso normalmente, mas é preciso aprender a lutar e investir ternura, zelo e cuidado com as vidas ao redor. Na verdade, elas é que costumam dar rumo ao nosso existir, sentido aos nossos passos. Claro que é preciso amar-se por primeiro porque não será possível uma posição altruísta de alguém que não se ame, que viva com uma auto estima rasante… Mas o que estou falando? Na verdade é um pensamento que quer voar independente do meu controle, ainda que tenha tudo a ver com o que eu penso… Em suma, viver pode ser muito bom se eu aprender que há vida ao meu redor e não apenas em mim!
passa-tempo
com o passar do tempo
às primeiras camadas lúdicas
sucedem as mais ingênuas
até que a malícia acomode
sorrateira, licenciosa
por prêmio gozo barato
e a fuga da verdade
pontos de intensa ilusão
quando a vida desvalida
refém de estéril cegueira
e ao resquício das olheiras
boca amarga e saudade
de antigos dias felizes…
passa o tempo e endurece
o peito e o olhar agreste
extenuante enternece
e nas gotas de orvalho
um sorriso ainda pálido
de repente acontece
algum conforto em palavras
A maturidade é um processo que começa verde…
verde da esperança, verde da juventude…
a vida sempre mantém alguns tons esmeralda
para os que conservam olhos atentos
ao brilho exterior
que penetra nossa escuridão interior
Às vezes corre por um fio
às vezes é apenas um vazio
a vida às vezes parece não querer viver…
Mas são apenas momentos ruins
porque o bom da vida é perceber
o quanto é bom o viver!!!
no existir não há o que temer
exceto a insensibilidade
que nos faz cegos e surdos
aos apelos à nossa volta
do idoso que pede compreensão
da criança que espera o aconchego
do amigo que só almeja um sorriso
do irmão que estende a mão
do pobre que requer a ajuda
de Deus que espera nossa fé
nosso amor nossa esperança
e toda a nossa confiança
o valor a cada instante
sem esperar demais de nós mesmos
seguir ao mesmo tempo
descansados e alertas
mais focados em ser do que em ter
mais no viver que na morte
mais no amor do que em ser amado
mais perdoar que ser perdoado
como diria Francisco
refletindo as palavras do Mestre:
quem ama dá a vida pelo amigo
e amai-vos como eu vos amei!
garoa
chove com insistência
num derrame de gotas modorrentas
e as folhas molhadas
espargem brilhos ao redor
todos os sentidos preguiçosos
trabalham à meia luz
cheiros, sons e paladares
brotam da terra em cio
fazendo um torpor vazio
emudecer os meus ais…
dilemas
Relacionamentos são variáveis como os estados da matéria. O que difere é que geralmente os idealizamos como paixão que é fusão incandescente e contínua. Mas como estamos sujeitos ao clima e às condições do ambiente – se ao invés de esquentar, esfria – podemos ter uma solidificação que cristaliza os corpos antes da fusão, causando extrema frustração. Existe ainda o risco da evaporação quando os sentimentos são muito líquidos e demasiadamente expostos às suas chamas, fazendo ruir todo aquele assombro inicial. Riscos menores correm a paixão domada que podemos chamar de amor ou a amizade que é o amor imune da paixão desordenada.
Mas estar vivo é correr riscos e é melhor dar a cara pra bater correndo esses riscos do que se camuflar para não sofrer e assim tampouco viver a vida em toda a intensidade de seu colorido…
é assim…
acordei de algum sonho
tantos dias se passaram
se aqui o tempo engrena
mais ali também engana
distorcida no espelho
minha imagem espartana
barba cabelo e bigode
omissos e alquebrados
nem levantem suas vozes
pois meus tímpanos atrozes
já não reverberam mais
vivo mudo de silêncio
encrespando minhas ondas
invadindo mil terrenos
nas fantasias dos anos
se vislumbro o crepúsculo
não reteso nenhum músculo
nenhuma coisa me espanta
o tempo escoa e não pára
tem começo meio e fim
a vida é simples assim…
palavra
as palavras são faíscas
incendeiam, tiram lascas
servem para desvendar
ou recobrem feito cascas
falam de tudo o que há
no peito, alma e na mente
daquilo que circunscreve
das coisas que vão surgir
acontecimentos passados
e mesmo das fantasias
mas quando a palavra cala
dá-se à luz a poesia
PS.: texto antigo, de 15/07/2004, postado lá no semi-abandonado “Verso & Prosa”
lua e estrelas
meu desvelo
tem a lógica quebrada
da penumbra
em sombra e luz
roubada do teu olhar
sempre altivo e lisongeiro
às vezes contemplativo
que me enfoca ou me sufoca
não sei o que vem primeiro
mas conservo este brilho
no sótão do meu porão
no sonho e na fantasia
nas estrelas
do meu chão
tres tempos
resseca a tez
à insensatez
do sol neste relento
a seca do rebento
sido no passado
que ainda camuflado
segue sendo
e que um dia
no futuro mais longínquo
contrário ao seu destino
anseia com afinco
de novo ser
menino…
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