H@ vida depois dos 60

…com pensamento, opinião e poesia em doses homeopáticas…

teias

feito um besouro tonto
me enrosco cada vez mais
engolido teia adentro
solapando muito lento
com pensamento veloz
me debato angustiado
sufocando minha voz
quem sabe ler pensamento
descobre que aqui dentro
além dessa dor cinzenta
ecoa um silêncio atroz

pensado por Tarciso comente    

profissão tardia

Uma das coisas boas das férias é que a gente tem um tempo ocioso enorme e pode preenchê-lo com ações agradáveis e prazeirosas. Bem, não estou de férias do trabalho – ainda, – apenas da faculdade. Sim, da faculdade, porque depois de ultrapassar a barreira psicológica dos cinquenta resolvi voltar a estudar e já estou para iniciar meu terceiro ano de teologia. E o que é teologia, me perguntarão?! A resposta poderia ser longa e rebuscada, mas não é essa minha intenção por aqui. Então, basicamente, teologia é o estudo sobre a revelação divina – ou seja – o estudo daquilo que Deus, principalmente através das Sagradas Escrituras nos deu a conhecer sobre Si mesmo. Para um descrente isso soaria como tremenda perda de tempo, mas para um crente é um imenso deleite descobrir e aprofundar tantas verdades gratuitamente reveladas por Deus. Ao terminar o curso me tornarei bacharel em teologia ou teólogo se preferirem. E para que alguém se torna teólogo?! Há diversos campos para um teólogo, um deles é a vida religiosa como sacerdote ou diácono – que não parece por enquanto ser o meu caso, – outro é a pesquisa e, ainda outro, o magistério. Esta terceira alternativa é a minha primeira opção. Pretendo fazer um mestrado de dois anos depois do bacharelado e em seguida lecionar teologia em alguma faculdade ou seminário católico. Quando acontecer isso estarei realizando um dos maiores sonhos da minha juventude: lecionar, – pois me sinto um professor frustrado. E de quebra realizarei também um sonho da maturidade que é ocupar meu tempo de modo produtivo num campo que muito me agrada, a minha religião.
Se tudo conspirar nessa direção – como creio que Deus fará – daqui algum tempo me aposento da profissão administrativa que exerço a mais de trinta anos e passo a fazer algo que adoro: ensinar!
Não vejo a hora de me tornar um professor! Pode?!…

pensado por Tarciso (2) Comentários    

sonho qualquer

       A vida se constrói em camadas de rotina – por vezes sufocante, – e eventuais sobressaltos. Nem todo sobressalto é ruim mas é sempre uma surpresa que de repente e do nada se apresenta, podendo alterar o enredo de uma vida. Não se planeja em detalhes um filho, um amigo, uma perda, uma alegria contagiante ou uma agonia qualquer… Olhando em retrospectiva para nossas próprias vidas encontramos esses eventos como marcas indeléveis na trajetória, pegadas que se esmaecem apenas com o lento e preguiçoso passar do tempo. Aos vinte e um sofri uma perda pessoal irreparável, repentina e impensável provocando uma guinada que alterou meu destino que se delineava aparentemente sem surpresas. O solavanco abalou a família causando a dispersão dos irmãos, cada um procurando o próprio rumo e tecendo em solo sua nova caminhada. Algumas camadas de anos depois a perda vai sendo absorvida – até onde isso é possível, – e novos eventos, uma nova família, filhos, trabalho, novos amigos – a própria passagem do tempo vão cauterizando a ferida e permitindo uma continuidade existencial, o que seria impossível não fosse essa potencialidade humana de superar limites e estabelecer novas metas para seguir vivendo. Mesmo quando somos muito jovens já teremos experimentado eventos impactantes na vida, uns mais outros menos, mas todos já sabemos que eles existem e podem nos sujeitar ao sobrevir alterando planos em andamento ou projetos acalentados. Na infância sonhava ser médico e acabei – muito a contragosto – me tornando administrador. O fracasso do sonho imposto pela realidade, apesar dos pesares, não resultou de todo ruim, afinal estou aqui diante deste monitor – em pleno expediente – expressando em palavras aquilo que houve de superação diante do plano frustrado. Assim é a vida e o que seria dela não fosse a limonada sempre possível a partir de alguns limões. Um post pode nascer assim, fruto da necessidade de fincar um marco no calendário no primeiro dia útil de um novo novo ano para que na sucessão das camadas anuais, lá mais à frente, eu possa me localizar e distinguir a quantas andavam meus pensamentos e humores nesta fase cinqüentenária em que me encontro. Tolices, alguns dirão. Talvez tenham razão, mas de que serviria um blog se qualquer tipo de censura reprimisse a liberdade de expressar sem compromisso pensamentos soltos flutuando ao rés do chão?!… Um dia, quiçá, ainda empreenderão vôos mais elevados… Até lá, deixem que fale, que sinta, que sonhe um sonho qualquer…

pensado por Tarciso comente    

quem com ferro fere…

É preciso cuidado com as pessoas ao nosso lado. Somos universos, somos universais, mas não, não somos todos iguais. Temos os mesmos direitos e deveres, mas cada pessoa é única e irrepetível. Quando agimos de forma leviana e irresponsável podemos ferir irremediavelmente quem amamos e que nos ama e causar sofrimentos desnecessários. E é incrível como às vezes podemos ser insensíveis com as pessoas mais próximas de nós. Esposa, filhos, irmãos, pais muitas vezes são vítimas de nossos humores e de nossa superficialidade ao lidar com sentimentos alheios. Mas quando a coisa é conosco costumamos ficar muito bravos com os que nos machucam… É preciso cuidar, é preciso cuidado… as pessoas que amamos e as pessoas que nos amam merecem todo a nossa atenção e cuidados. No mais, quem não gosta de amar e nem de ser amado que atire a primeira pedra, de preferência para o alto assim ninguém mais vai sair machucado…

pensado por Tarciso comente    

olhos de mel

a visão se turva
na vastidão molhada
deste imenso mar
séculos depois
ainda me lembro
com alguma dor
e imensa ternura
tudo é mais difícil
além da superfície
teus olhos de mel
quase a me lamber
podem devorar
as minhas fissuras
ampliando espaços
com os estilhaços
da censura insana
santa e profana
que me assedia
sempre o teu olhar
ainda tão assim
ainda tão sagaz
mas dentro de mim…

pensado por Tarciso comente    

pensares

Hoje é dia vinte e seis de dezembro de dois mil e sete, faltam apenas cinco dias para que este ano chegue ao fim e que, obviamente, comece um novo ano. Não dá pra imaginar o fim de um tempo que não recomece de novo e de novo, muitas vezes… Acho graça nestas convenções que obedecemos e que o ser humano inventou para ter algo com que preencher o tempo, suponho… Tenho tido muito contato com jovens aqui no blog e – outra coisa engraçada – tem fases que as visitas são só dos meus contemporâneos, afinal o título deste blog remete a um público de meia-idade. Mas realmente eu gosto muito de gente jovem, não importando a idade, com predileção para os mais jovens e os adolescentes que constituem, talvez, o universo etário mais rejeitado pelo mundo adulto. Nisso sou bem diferente dos meus pares adultos porque tenho grande paciência e tolerância com suas idéias às vezes incompreendidas. Quando penso sobre minhas próprias idéias – supostamente maduras – noto que elas podem ser tão “imaturas” quanto as da garotada. Ainda me rebelo com muitas coisas, me derreto com outras e passo adiante… só não consigo ficar um minuto sem pensar em qualquer coisa – mesmo que seja alguma besteira. Alguns me dizem que sou um “pensador profissional” – agir que é bom, segundo eles, não seria muito do meu perfil. Exagero! Todo dia me levanto, vou trabalhar, volto pra casa, almoço, janto e depois vou dormir – que ninguém é de ferro!!! Tem muita ação nessa minha rotina, pelo menos eu assim creio… Mas, às vezes, me sinto tão perdido como qualquer adolescente. Desconfio que todos os adultos se sintam assim de vez em quando, mas a maioria apenas segue cumprindo o seu papel de eterno adulto, sequer pensando um pouco no peso que isso significa… Mas eu penso… uma hora nisso, outra naquilo e, de vez em quando, até faço alguma coisa – depois de pensar muito, claro!!!

pensado por Tarciso comente    

Natal

   É só um dia no calendário, com a extensão de qualquer outro, mas tem também características únicas. Primeiramente é um feriado no qual celebramos o aniversário do próprio Filho de Deus… O clima amanhece diferente, o almoço é especial e geralmente as famílias se reunem em festiva confraternização. Outro aspecto que chama atenção é a intensidade da algazarra das crianças estreando seus brinquedos que muitas atribuem ao empenho presenteador de Papai Noel e sua renas voadoras. Rojões ocasionais pipocam pelas ruas e as sobras requentadas da ceia vespertina preenchem o ambiente com um cheiro bom… Pela minha mente desfilam silhuetas de muitas pessoas queridas que neste dia eu gostaria de abraçar. Algumas delas não mais se encontram nesta dimensão porque já transpuseram o grande rio que margeia a vida… Outras estão distantes por culpa da geografia, outras por minha própria culpa – embora possam estar logo ali do outro lado da rua, talvez. Na verdade, tudo é muito simples, mesmo a complexidade dos nossos relacionamentos amorosos ou de parentesco e amizade. A solução para eles quase sempre demanda um simples gesto, uma palavra terna, um estar ao lado… Em 2008 vou tentar simplificar as coisas…

pensado por Tarciso comente    

FELIZ NATAL!!!

Aos meus amigos e visitantes virtuais

       Embora as ruas fervilhem e o comércio se torne tipicamente agitado nesses dias, as pessoas em sua maioria perderam o verdadeiro sentido desse tempo…
       Natal lembra o tempo invadido pela eternidade, o divino envolvendo a humanidade, as reminiscências do céu presentes no coração humano saudoso de sua origem e destino…
       A você que conserva a real perspectiva da simultânea grandeza e despojamento dessas festas natalinas, meus votos de um feliz e abençoado Natal do Senhor!!!

pensado por Tarciso comente    

sonhando alentos

submersão remete aos oceanos
mas só espero o silêncio da madrugada
e os cálidos sons que dela emana
não quero vasculhar os sentimentos
confusos, submersos, irreais
não quero nada demais
exceto descansar algumas dores
aliviar de uma saudade sorrateira
que se instalou ligeira
e não vai querer me libertar
esse sentimento é velho conhecido
que me visita às vésperas dos natais
me envolve com sua melancolia
não faço nada além de suspirar
suspiros casuais, suspiros matinais
suspiros marginais
suspiros que me impedem respirar
olho ao longe e nada vislumbro
nossos passos se perderam
e ficamos cheios de desencontros
e desencantos de tristeza lânguida
fecho os olhos um instante
mergulho no mais secreto de mim
antes do natal, antes do reveillon
antes de uma nova manhã
preciso reviver o meu elã
preciso equilibrar essa tontura
fugir das fantasias da loucura
e em sonhos natalinos mergulhar…

pensado por Tarciso comente    

no tabuleiro da vida

               O tempo todo estamos tomando decisões e, no entanto, há muitos indecisos ao nosso redor – quando nós mesmos não nos tornamos um deles. Pela manhã precisamos nos decidir entre levantar e permanecer na cama. Costumamos nos levantar. Em seguida tomamos automaticamente uma série de decisões e praticamos os atos decididos. Não costumamos nos dar conta de que a nossa rotina é repleta de pequenas e grandes decisões que podem comprometer para melhor ou pior o resto de nossas vidas. Não, não é minha intenção escrever mais um texto de auto-ajuda. Na verdade estaria refletindo em voz alta se não estivesse escrevendo no blog. Me ocorreu que o padrão de nossas decisões está diretamente relacionado com o padrão de nossos pensamentos. Pessoas pessimistas são muito cautelosas e cheias de precauções e tomam ou adiam suas decisões baseadas nesse padrão de excessiva cautela e precaução. Com isso não se expoem a riscos e, de outro lado, tampouco fazem experiências dignas de registro. Vivem uma vida robotizada, conduzidas por uma espécie de piloto automático que tem um vocabulário onde se repetem exaustivamente as palavras “não” e “senão”… O otimista exagerado, por seu turno, toma decisões baseadas em sua fé quase mística de que tudo vai dar certo, se expondo a toda espécie de riscos sem medir as consequências de seus atos. Geralmente sofre perdas pequenas e algumas grandes que não vê com a sua real dimensão. A posição intermediária pertence ao otimista realista que não se deixa influenciar por infundados pessimismos ou otimismos inconsequentes, mas avalia cada circunstância usando o padrão da realidade que vive e presencia. Ouve pessimistas e otimistas e desfere calculadamente o seu diagnóstico quando toma as suas decisões. Na maioria das vezes acerta e é bem sucedido. Algumas vezes erra e aprende com os próprios erros. O otimista realista sabe que pode ganhar ou perder e por isso não vive jogando de forma leviana. Quanto sente que tem boas possibilidades de ganhar ele se prepara para o lance, faz a jogada na hora certa e espera o resultado. Faz o seu jogo calculado… Diante do empreendimento de viver prefiro ser esse tipo de agente otimista realista que não evita o jogo quando é preciso jogar! E você, faz o seu jogo ou prefere nem jogar?!…

pensado por Tarciso comente