obesas nuvens preguiçosas
estacionam por aqui
derramando com volúpia
suas águas abissais
me encharco impaciente
em sisudos impropérios
nem tanto a chuva
a enxurrada
aquilo que mais inflama
é a lama da cambada
que rosna solerte e mente
fingindo valer a pena
sua estratégia pequena
só destruir e mais nada
das intempéries
eleitor, ainda é tempo…
há riscos
na terra e no céu
relâmpagos e coriscos
os homens e os filhos dos homens
e todas as gerações
jazem sob os próprios escombros
e se assombram
com o resultado pútrido dos seus atos
a ética à morte em fatos consumados
amargo fado inevitável
de quem vive sem viver
e as urnas serão obesas
de votos mancos e cegos
traçando escolhas espúrias
para o destino geral
deste carnaval fora de hora
em blocos de frustração
com mui nobres trambiqueiros
sanguessugas, mensaleiros
e palhaços sem pintura
muita banha na cintura
nenhum bem no coração
apenas na algibeira
desculpas esfarrapadas
e a mentira deslavada
(nunca perder a mamata)
pra ganhar a eleição
eleitor, ainda é tempo!…
mal entendidos
Pela existência afora vamos encontrando pessoas. A grande maioria apenas passa, mas um número significativo delas se tornam conhecidos, colegas, cooperadores. São flashes de luzes que faiscam ocasionalmente e enfeitam a vida. Mas existem algumas poucas pessoas em particular que balançam as nossas estruturas, se encastelam em nossa história, se amalgamam conosco e fazem o nosso enredo ganhar novos ingredientes quando passam a contracenar conosco. Fazemos juntos dramas e comédias. Como fica rica a nossa caminhada por conta dessas pessoas que passamos a chamar de amigos. Tenho poucos amigos porque a amizade é um sentimento exigente demais para ser alguma coisa de atacado – de quantidade. Amizade rima com qualidade. Amo os meus poucos amigos e sinto muita dor na alma quando algum mal entendido consegue estremecer anos de afeto acumulado em amizade. Mas, infelizmente, isto às vezes acontece. Então, resta esperar que tudo se clareie e se resgate o valor da amizade machucada. Pena que alguém provavelmente não vá ler estas linhas e entender de perto o meu lamento!
canto pueril
quando espinhos se machucam
quem mais sofre são as pétalas
rola o tempo inevitável
só se notam cicatrizes
pois a dor acre bandida
em camadas esquecidas
não preciso me lembrar
vou buscando os unguentos
pra lançar no esquecimento
feito rio rumo ao mar
voa, voa livre passarinho
abandona o antigo ninho
na maior felicidade
de ter asas e voar…
segue em frente
esquece o ninho
e então devagarinho
esquece o pranto, arrisca um riso
e tudo o mais que for preciso
voa em um céu de brigadeiro
esqueça meu paradeiro
deixe as asas te levar…
milênio
Eu vou te contar… tá fazendo um frio dos pampas! Tudo está muito igual e cinzento até onde eu consigo enxergar.
Não é que eu veja uma encruzilhada e encontre dificuldade em escolher a melhor opção. Vejo todo um campo aberto à minha frente – são 360 graus de multifacetadas escolhas. Um verdadeiro cassino de apostas com muitas escolhas em pares de verdes e vermelhas. No fim, parece que tudo sempre se resume nestes dois caminhos…
A vida me parece tão metódica, sistemática e bipolar – mas isso me descansa porque tenho muito medo das suas guinadas. A qualquer riso sempre se contrapõe a inevitável incerteza sobre tudo. Sou o fiel mais cético que conheço – isso quando penso sobre quem sou! Gosto de ser assim mas isso costuma me dar um trabalho danado e os pensamentos são tão autônomos – parecem potros indomáveis – embora eu mesmo seja irritantemente previsível.
Porque presto atenção no clima com todo este frio dentro de mim?! Porque faço drama se tudo mais parece uma comédia?! Então vou rir de forma desbragada, vou permitir meu gargalhar descontrolado. Vou liberar a dose de loucura há tanto tempo reprimida… mas também pode ser que não e deixe isso pra depois – não ligo em adiar esse nonsense. Eu só não sei o que fazer com este milênio de saudades…
iceberg
um iceberg por idéia fixa
e tá um calor ferrado
ouço no rádio uma notícia
o serviço de meteorologia afirma que vem chuva
com direito a granizo e frio subsequente
meu coração anda irrequieto
seu ritmo sinusal descompassado
ondas revoltas e eu imobilizado
assim como no mundo
é coisa fútil o meu pensar
o câmbio é automático
o freio hidramático
feito um robô
meus gestos são mecânicos
e se houver lágrima
arrisco enferrujar
tento um sorriso lubrificante
ante o ranger de dentes
a me denunciar
tardes ensolaradas
Meu pensamento segue em ciclo acelerado o vento suave desta manhã e uma fina melancolia se insinua. Qual folha seca sou levado pelo rodamoinho modorrento dessa brisa matutina. Inevitável não olhar para dentro e encontrar aquela mesma neblina que insiste em visitar-me quando em vez por mais que passe o tempo. Quando sobrevém não se distingue nada muito além – nem olhando o passado e nem perscrutando o futuro. Sei ou intuo o que há numa e noutra direção, mas falta definição. Advinho os reflexos de sol no horizonte à minha frente e aspiro seu calor preguiçoso. De chuvas só aprecio aquelas torrenciais de verão que invadem e rolam desbragada e voluptuosamente pelo chão sem rompê-lo e ainda deixam um cheiro de terra molhada. Diante de tal visão, desse aroma da natureza, mergulho em reminiscências. Aonde estou agora?! Difícil precisar. Às vezes sou a infância, noutras me vejo nas loucuras da adolescência e raramente me assediam lembranças da vida adulta. O que ganhei ainda tenho mas como dói pensar nos que perdi. E o espelho inclemente revela o ponto em que me encontro e que dia é hoje. Manhã de sábado, como centenas já passadas. Tem sido o melhor dos dias da maioria das semanas já vividas. Amo as manhãs de sábado e na verdade o sábado todo me deleita. Mas hoje está cinzento e quase frio – um sábado atípico. Ainda assim persiste algum calor dentro de mim que impede me render aos arroubos de qualquer melancolia. Sublimo frustrações e espero pelo sol que já está vindo por aí!…
espelho reverso
minha maturidade
parece as vezes recaída adolescente
ou forjo a barra que assim seja
talvez eu busque traços de infantilidade
no espelho desgastado e enternecido
onde não me pareço
é como se a ótica estivesse desfocada
pois só vislumbro ali escombros
e dou de ombros
ao rosto em crepúsculo
nenhuma tensão nos músculos
apenas um olhar cansado
detrás dali
muito além da íris
os sonhos esquecidos
uma trajetória antes do arco-íris
e tudo o que podia acontecer
escrito assim parece o ocaso mas não é
o que foi que não foi bom?
se estou aqui
e dos mais ácidos limões
elucubrei tão doces limonadas?!!!
par perfeito
nos dias chuvosos
evoco os raios de sol
que com calor e brilho
aquecem e enfeitam a vida
nos dias calorentos
busco meus unguentos
e o frescor da primavera
adentro insone as madrugadas
e nas paisagens invernadas
reencontro o que restou
de um momento mágico
que se fez eterno
na lembrança a sós
de nós dois…
amanhã
pensei que fosse independente
mas sempre dependi das minhas asas
e quando me sinto seguro
um medo insano me apavora
porque tudo o que é bom sempre acaba
ouvi dizer isso muito cedo
então minhas expectativas soam pessimistas
no meio do gozo intuo a dor subsequente
depois passa…
amanhã é sempre outro dia
e hoje não vai de todo mal…
o ontem?!
ontem mesmo já passou!…
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