Flutuo sem muito interesse nas tardes mornas deste inverno. Poderia estar fazendo um milhão de coisas e percebo que não me concentro sequer na única que deveria exigir o meu empenho e atenção por estes dias. Vou frustrando reiteradamente o plano concebido a duras penas. Tenho andado distraído desperdiçando energias com frivolidades internéticas num labirinto sem fim de futilidades. Enquando isso avançam os ponteiros e se exaure o tempo previsto para o cumprimento da tarefa agendada. Daqui a pouco chega o dia do passeio e corro o risco de não conseguir dar conta do único compromisso que foge da rotina. A rotina cuida de si própria e feito um robô a vou cumprindo mecanicamente. A cada noite percebo que se foi mais um dia. Vou pra cama anestesiado e já nem me recordo dos sonhos. Mas se alguém pensa que isso é um lamento – se engana. Não lamento. Lamentaria por muitas outras coisas – jamais lamento essa displicência de caminhar de forma distraída. O meu piloto automático tem funcionado a contento. Mas eu tinha que relatar algo desse tempo para quando vier revisitá-lo e isso só vai acontecer quando hoje for ontem e amanhã se tornar um novo dia… Repito e friso com candura: a vida é mesmo bela!!!
Só
Só porque entrou julho o calendário já não é mais o mesmo. Isso é de uma obviedade lancinante. Mas eu nem estou aí para manifestações ululantes. O que ando pensando sobre mim? Sou apenas mais um cidadão comum – graças a Deus – com nuances infantis e senis embora esteja no auge da meia idade. Serei eternamente uma criança enquanto caminho para a maturidade?! Não vou esquentar com isso porque, afinal de contas, já devia ter me acostumado… Enfim, novamente julho! Quantas vezes o meu relógio sazonal passou por esta estação na vida. Eu não estou tão diferente do que sempre fui a não ser no visual mais amadurecido. Cometo os mesmos erros – com menor intensidade – mas me sinto tão previsível quanto a isso. Rondam-me então as mesmas culpas e os mesmos desejos de redenção. Olho ao redor e o brilho do sol embeleza a minha vida – tenho que ser agradecido. Tudo vai bem e o tempo passa às vezes com celeridade e às vezes lentamente. Contudo, passa… Até quando irei e onde chegarei ainda é uma incógnita corrente. Tudo o que eu queria dizer por ora é que sou muito coerente até mesmo nas minhas eternas incoerências. Sou caminhante a caminho e mesmo não sabendo de quase nada, penso que conheço o meu destino! Só!
crepúsculo do olhar
na divisa em crepúsculo
uma linha curvilínia que decai
tensos músculos só os do olhar
pois que se afrouxam todos os demais
alguma sabedoria se decanta
e sublima o pranto que não cai
onde a trilha vai levar
de onde ela vem
para onde ela vai
as memórias se embaralham no passado
e o futuro é tão somente uma neblina
o que será depois daquela esquina
com seus sinais indecifráveis
enquanto houver essa tensão no olhar
o corpo não caminha
por conta do crepúsculo
e a força ausente em cada músculo
decifrar ou ser devorado
eis a sina de quem fica
eis a sina de quem vai…
um audioblog surpreendente
As surpresas, como é de se esperar, jamais avisam… Acontecimentos inesperados e inusitados se insinuam em nosso quotidiano ora enfeitando, ora enfeiando o nosso dia-a-dia. Mas hoje falo de enfeites, porque nestes últimos dias tomei conhecimento, através da indicação do meu amigo Marcelo Camafunga, de um site português onde um locutor interpreta textos de escritores consagrados e também de autores anônimos. Como me enquadro nesta última categoria desejei ouvir-me e enviei tres textos de minha autoria, sendo duas poesias e um conto. É verdade que não atinava com a possibilidade de ouvi-los – não ao menos com tamanha brevidade – mas para minha satisfação eis que sou notificado que um dos meus textos, ao lado de um outro do referido amigo Marcelo e ainda um terceiro de um autor português, foi interpretado e disponibilizado em um audioblog na internet pelo Luis Gaspar – ao qual antes me referi e a quem fico imensamente agradecido por esta especialíssima deferência. A quem tiver o desejo de ouvir como ficou bonita a interpretação é possível acessá-la no site Estudio Raposa – audioblog do Luis Gaspar (sugiro que se guarde carinhosamente nos favoritos porque vale a pena) no item “Lugar aos Outros 06”. Claro que ninguém consegue acessar o audioblog do Luis Gaspar sem deixar de se encantar ao ouvir os textos por ele interpretados, sejam aqueles já consagrados sejam as criações de anônimos autores.
Quando ao texto de minha autoria que o Luis Gaspar maravilhosamente interpreta em seu audioblog é o que reproduzo a seguir:
O que nos reserva Cronos…
seu templo difuso, cortinas de nuvens
murmúrios, painéis a cores, ficam e vem
trilhos desconhecidos enquadram – dirigem o trem fugidio…
esquio veloz esbranquiçados lugares gélidos
um certo tom cinza predomina
minha pálida neblina como convém
sou levado por águas
enxurradas cansadas
Beijo o espaço e vejo vidraças foscas
no interior passeiam moscas
e cá fora ganem alguns cães friorentos
onde andarão meus unguentos?!
E os dois rebentos de que servirão?…
Investe novamente a sonolência surda
e sinto o estrago do absurdo e contido
desse choro mudo e convulso
me remexo na cadeira inquieto
olho o fog e a fumaça rumo ao teto
estou dentro e fora de tudo e todos
levo tudo a rodo e sempre sobra alguma sujeira molhada
de concreto resta um quase nada
exceto essa dor
suavemente virulenta
docemente acre
restos do último porre
na entranha uma sede faminta
e um que de tolice disperso no ar
pra que sorrir, pra que chorar?
Irrita aquela música de fundo
feito alegres petiscos nas vitrines
longe, caros, fumegantes mas frios nos pratos
a imagem dos rostos sardentos e famintos
povoam a minha mente e até o picante odor mendigo
finjo não ver, não ligo, mas vejo-os ali lado a lado
e eu pensando e sofrendo sem motivo aparente
falta de gente, frio cortante, medo demente, raiva gritante…
Depois, de que adianta ficar pensando neste tédio
não trago aqui remédio
só uma espécie de irritação tardia
revolta absurda
pressinto o vazio
acho que é apenas solidão!
saudades do monjolinho
em movimentos ondulantes
oscilando entre um tom esverdeado
quando se enrosca nos remansos
e um azul na correnteza acelerado
desce o rio ao silvo das folhagens
que festejam as águas
a inundar os troncos de suas árvores
na linha do horizonte
o sol candente se espreguiça
e seus raios adentram pântanos
por entre as pedras coloridas e as margens
a tudo assistem nuvens impassíveis
que dançam suaves lá no céu
e eu de olhos vendados no presente
enxergo tão nítidas as águas do passado
e calo de saudades aqui do meu lugar distante
suspirando pelo meu oásis encantado…
CORPO E ALMA EM VERSO E PROSA
Estou participando do projeto de um livro de poesias sendo um dos quase 70 co-autores. A Loba é a culpada por tudo e todo o crédito pelo projeto é dela – confesso que eu nunca teria a coragem de enfrentar uma tal missão a que ela se propôs.
Transcrevo do blog dela as últimas notícias sobre o projeto:
“Corpo e alma em verso e prosa é um projeto que já deu certo. E será a porta de entrada para muitos outros projetos que já estão sendo idealizados.
E não me chamem de doida. Prefiro ser chamada de sonhadora! E parabéns a todos que acreditam e investem em sonhos!
E porque estou falando do nosso livro, ei-lo!

Com capa criada pelo querido Dácio Jaegger e participação de quase 70 blogueiros e amigos da loba. E agora vou também falar da sua venda. A partir de hoje, alguns dos autores estarão vendendo o livro em seus blogs – eu inclusive.
Estamos com 50 exemplares que precisarão ser vendidos para cobrir os custos, por isso estamos fazendo vendas antecipadas por um valor bem menor. Para quem quiser comprar agora o valor será de 12,00, fora as despesas de postagem – a postagem de 1 livro ficará em torno de 4,00. Para isso, basta entrar em contato conosco por e-mail fazendo o pedido e retornaremos dando as instruções para a compra. Meu e-mail: lobamulher@uol.com.br”
noite insone
um silêncio espreita sorrateiro
para engolir as almas recolhidas
das duas uma rendida adormece
e seu sono desperta no insone
além da inveja que não dorme
cobiça por seu corpo lânguido
e o desejo recalcado explode
mas tenso foge e não invade
temendo romper a linha delicada
e acordar tanta libido adormecida
então a cama é palco para os sonhos
e um cadafalso para os pesadelos
nas noites que sucedem certos dias
quando ao fervilhar das fantasias
se consuma o encontro inesperado
mas aquela sua vigília só começa
será de frustrações, será de alegrias;
o que será atrás daquela porta?!
ninguém além dali se importa
pois no seu mundo todos dormem…
a lucidez das velas
O que eu mais admiro na lucidez é o universo de loucura que podemos alcançar através dela e sei que estou ficando – irremediavelmente – cada dia mais antigo. Na hora de apagar as velinhas podemos ter estranhos pensamentos, imagina então quando o seu número chega a 52. Na verdade nem faz tanta diferença, depois de um certo número – o próprio número só vale pela dezena. A centena dificilmente alguém alcança e se por acaso a alcançar tornar-se-á um ancião não mais do que qualquer criança. Até o pesadelo do próprio desaparecimento vai se tornando uma realidade em perspectiva e com o passar do tempo vai ficando mais plausível e menos assustador. Quem segurará, no fim, as alças do caixão? O que resta à carcaça inerte e fria se já não há mais riso e se não há mais dor?! E o que dizer da liberdade absoluta que então sobrevirá?! E quanto ao tempo presente, haverá um limite para a multiplicação das perguntas? Ou são sempre as mesmas, travestidas apenas as palavras?! Não tenho tantas respostas e a cada dia percebo a minha defasagem ao aumento inexorável das perguntas… Quanto mais penso saber alguma coisa, tanto mais constato que nada sei. O paradoxal é que isso mais me acalma que espanta, mas me deixa sereno que agitado, mais me faz descobrir-me que ocultar-me. Enquanto sentir o calor das chamas, enquanto souber contar as velas acesas e sopradas, enquanto houver vida e lucidez – continuarei içando e soprando as velas!!!
Dias de chumbo
ao estopim aceso
corre a chama do rastilho
descontrolado estouro da boiada
botinas pisam os caídos
em alvoroço ondulam os tecidos
desesperados
em corridas circulares
sem sentido
as palavras não penetram os ouvidos
e todos os sábios estão calados
no fim de tarde cinzento
se ouvem apenas sirenes
secos pipocos e apitos
soam também gritos ensandecidos
e enfim corpos exaustos desabam
depois se escuta só o silêncio
é o princípio
é o meio
é o fim…
saudades da mãe
mãe, me perdoe
pelos outros 364 dias
repetidos a cada ano
tão plenos de imperfeição
na distância e indiferença
no descaso e abandono
que eu zere esse relógio cruel
a ressoar cinzento na memória
já faz muito que você se foi
e desde então sou o que não fui
pois agora te trato bem
como nunca te tratei
ainda que apenas na lembrança
e no denso vazio da saudade
com os passos mais maduros
insisto em tuas pegadas
aos rastros da tua ausência
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