nenhum esforço pode impedir
o movimento do mar,
mas quando se decantam as águas
ele vai serenando naturalmente
ao mar, ao barco e ao navegante
acompanha um intenso e amoroso olhar
d’Aquele que tem o controle
de todas as nuances e situações
e a quem nada é impossível!
Olhar confiante
leve silêncio
falar dos sentidos
sendo grato ao agasalho envolvente
falar dos sentimentos
agradecendo a amplitude do calor
a poesia é linguagem
expressão de projetos e sonhares
cinzel que talha um peito em granito
ou panos quentes que aquecem a alma
podia falar na música do silêncio
ou nalgumas graciosas melodias
poderia bailar tecendo pensamentos
vendo o sol brilhante lá fora
entretanto me aquieto aqui dentro
porque podia falar de tantas coisas
do tudo e do nada que conheço
mas me espreguiço leniente e calo
sabendo que quem cala consente
e sente não saber o que calar…
labirinto
meu coração inquieto
se remexe no meu peito
tenho estado desse jeito
não há muito por fazer
o que fiz já está feito
me envergonho de dizer
a ladeira se agiganta
e deslizo tal criança
dizendo não ao meu sim
passam dias, passam anos
eu fico fazendo planos
e apagando os estopins
destas dores escondidas
que distorcem toda a vida
e não parecem ter fim
os cabelos encanecem
ao outono que entardece
em penumbras dentro de mim
correntezas
vislumbro as chuvas e as correntezas
das águas barrentas do “Monjolinho”
meu pequeno rio de lembranças
quase todos éramos crianças
e os adultos habitavam muito longe
suas cabeças nas alturas
seus corpos macilentos
fugíamos das palavras duras
que impacientes ralhavam sobre nós
e nos embrenhávamos nos capinzais
brincávamos e corríamos soltos
feito pequenos potros indomáveis
e só voltávamos ao entardecer
rondando às ternas saias das matronas
na fuga aos olhares fuzilantes
dos senhores barbudos – avós e pais
mas quando exaustos nós dormíamos
aqueles seres rudes e viris
se aproximavam contidos e afagavam
nossos cabelos em desalinho
antes de se recolherem
cansados sob o linho dos lençóis…
se arrastam em sonhadas corredeiras
estas páginas antigas e viradas
na dimensão imutável
do tempo que não pára de mudar
tornando alguns ainda mais serenos
e a outros remoendo sem cessar…
ode à Beleza
bem além de seus conceitos
se advinha em entrelinhas
se revela nos silêncios
nos rostos dos anciãos
nos casais enamorados
semblantes puros da infância
em folhas soltas ao vento
raios que iluminam a noite
em açoites da saudade
na pureza de um viver
a Beleza – meus amigos
com toda simplicidade
se esconde no coração
em adornos da verdade
retrato esmaecido
A história se repete e cada um evolui ou fracassa na mesma proporção com que aprende ou ignora os fatos. A maioria vive revisando os acontecimentos e eu não sou exceção. Hoje remexia em papéis guardados e revi fotos antigas esmaecidas pelo tempo. Na maioria delas eu quase não me reconheço – cabeleira farta, olhar altivo e uma certa presunção no rosto. Talvez não seja isso. Mas é a leitura possível porque as minhas lembranças também se esmaeceram ao decorrer dos anos. Não consigo me lembrar dos sonhos, fantasias e nem dos medos que sentia. A vida apenas se advinhava e quase nunca acontecia. O amanhã parecia um lugar muito distante. E esse olhar na foto nem é tanto presunção, na verdade é muito mais uma interrogação sutil. No fundo quase nada mudou, exceto a fisionomia. Não há nada mais igual a um ser humano do que ele mesmo, passe o que passar (tempo, espaço e forma). Nesse todo impreciso, só viver é preciso!
Jarbas Ribeiro de Araújo
De manhanzinha, a barba ainda por fazer e a escova em veloz passeio deslizante sobre os dentes. Vejo no espelho alguém que poucos vêem. Surgem-me então à lembrança os sonhos da noite recente e as fisionomias queridas de toda uma família constituída de pessoas agora ausentes do meu quotidiano mas que ocupam um lugar privilegiado na minha memória e trajetória de vida. Só soube recentemente de sua partida e por algum motivo que não consigo atinar, vividamente me recordo do seu Jarbas – alguém que ocupa um particular destaque em minha história. Quando eu ainda era um desconhecido para mim mesmo e tinha um grau rasante de autoestima, aquele homem, ser especial, um adulto, pai de uma família numerosamente encantadora e administrador da filial de uma importante multinacional na minha cidade de origem, me acolheu, me ouviu, valorizou e respeitou meus sentimentos, opiniões e ideais juvenis – e quando esse contato se iniciou eu não tinha mais que 15 anos. E por ser a pessoa que era e por ter constituído a família que constituiu, sua casa era um ninho acolhedor e lá eu me sentia sempre ternamente acolhido por todos. Até então nunca me havia sentido tão gente na vida! Ninguém jamais conseguirá avaliar o sabor e a importância daquele relacionamento de amizade, cujas lembranças ainda trago no recôndito da alma. Até hoje ele é para mim uma valorosa referência e é pela força daquele seu exemplo que nutro grande empatia pela juventude – especialmente em relação aos mais carentes, – e cultivo fecundas amizades que se originaram com pessoas naquela faixa etária. Com seu jeito paternal, despojado e sereno – conselheiro sempre disposto a ouvir e incentivar – seu Jarbas me ensinou muito sobre a beleza das coisas simples e a riqueza das inúmeras maravilhas que Deus gratuitamente dispôs na natureza: o canto dos pássaros, as borboletas coloridas, as pedras preciosas, os montes invernados e as águas cristalinas… e observando-o pude descobrir que também cá entre os humanos, incrustradas em meio aos familiares, amigos, conhecidos e até pessoas mais distantes se encontram outro tipo de jóias ainda mais especiais.
O seu Jarbas foi para mim uma dessas jóias raras, artisticamente trabalhada e lapidada pelo ágape da fraternidade!
Com um misto difuso de saudade e sentimento de perda, resta o consolo da esperança cristã de poder reencontrá-lo na grande festa daquele dia ensolarado de intensos raios multicores que jamais termina!
sempervivum
sou constante movimento
e evoluo devagar
para onde vou quero ir
mas sem pressa de chegar
muito breve o momento
nessa eterna nave ao mar
navegando até a vidraça
que se transpõe sem quebrar
fica o corpo em carcaça
e a alma livre sem par
desposando o infinito
sem fim seu novo habitat
à morte rompe a fronteira
e ganha o lado de lá
deixando lastro e saudades
…sonhos de reencontrar
(in)finitude
há que cuidar
do que é tenro
apreciando as gemas
gente brilhante
jóia humana
vão-se os anéis
ficando a essência
ainda que dissipem
a pele e a carne
à morte que magoa
a vida é bela
a do presente
quando tudo ri à toa
e a permanente
que transcende
à sepultura da pessoa
acontecimentos
Os acontecimentos se sucedem. Alguns são previsíveis como o nascer e o por-do-sol. Mas cada acontecimento é sempre inédito, mesmo os que acontecem muitas vezes. Outros se advinham e ainda há os totalmente imprevisíveis e imprevistos. A vida segue o seu rumo. Me questiono sempre sobre o rumo da vida. Algumas coisas decido, outras são decididas por mim. Na existência pontilham os bons momentos e ocasionais infortúnios. Apesar da maioria dos detalhes surgirem de improviso, eles quase sempre acontecem no bojo de uma decisão maior. Um programa de vida. O sucesso do existir quase sempre depende do cumprimento de metas pré-estabelecidas. Mas não se negue a possibilidade das surpresas e as grandes guinadas na vida. Talvez resida aí a graça do existir. Essa possibilidade, essas surpresas. Tenho me deparado com boas surpresas na maioria dos meus dias embora também tenha sentido faltar o chão sob os meus pés em algumas ocasiões. Experimentei derrotas e frustrações mas, graças a Deus, a todas sobrevivi. Ultrapassei os cinquenta e ainda tenho muitas esperanças. Creio. Já estou traçando novos desafios. Confio. O meu desejo é prosseguir!…
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