viver
risco incalculável
morrer
risco inevitável
riscam os céus
os coriscos sagrados
em raios que dividem o azul celeste
e o meu coração agreste
entre embevecido e assustado
nunca se ressente
nunca se completa
a não ser quando transbordam
os afetos reservados
feito magma de um vulcão
só que no lugar do enxofre
o teu perfume
no lugar das lavas
este meu ciúme
e o desejo de fusão em vida
malgrado o risco
incalculável
inevitável
…
riscos
parênteses
Há dias perfeitos. Há os nem tanto. E existem dias horríveis. O consolo é saber que ao menos nas minhas toscas estatísticas, este último tipo de dia, graças a Deus, figura como exceção. A segunda foi assim, mas já passou.
Então eu abro e fecho os parênteses deste dia, viro a página e fico olhando serenado as folhas virgens do bloco de notas sobre a minha mesa…
conselhos de graça ou a graça dos conselhos
Não seja a tua juventude um ópio que te sorva, para que a maturidade não te seja amarga. Apesar da vida parecer um buraco negro sugando o brilho e as estrelas, ninguém está fadado a ser anulado, exceto se fizer essa escolha e anular-se voluntariamente a si mesmo. O universo é infinito e cada pessoa é um traço aparentemente nulo na estatística da humanidade. Quanta gente já viveu até o presente, quantos bilhões de seres humanos já habitaram este planeta. Em minha carne há fragmentos da carne de muitos que já me precederam na existência. Somos todos frutos do carbono que se recicla indefinidamente. Isso não faz de mim menos do que já sou. Sou nada. Mas é tudo o que sou. Avaliar-se estatisticamente seria algo frustrante e deprimente. Mas quando se pensa na pessoa, no universo que cada um representa, então alçamos o infinito. Porque se o universo é infinitamente grande – a pessoa é maior que o universo, porque todo o universo cabe na emoção, no pensamento, na alma de cada pessoa. Então o nada absorve o tudo e com ele se confunde. Há traços brilhantes do universo em cada ser, o infinito habita cada pessoa. A relatividade do ser se decompõe diante do absoluto do existir. E ao fim, depois de tanto pensar e refletir, há que se concordar. É tudo tão grandioso que somente um Deus pode explicar as razões do existir. E se um Deus explica, porque desesperar, porque se embriagar de um absinto depressivo, porque amargar uma vida derrotada se ninguém existe antes de experimentar a vitória da conquista do espaço de viver. Milhares tentaram e só um conseguiu imergir e fundir-se à semente que o gerou. Explodiu assim em vida que ainda não murchou. E quando murcha é lançada à terra para que germine em eternidade. Levante, pois, a tua fronte. Ouse passos nunca dados, perceba o sol em seu lume e calor. O deserto contém alguns oásis, a dor encontra o seu linimento e a vida existe para desabrochar e florir até mesmo nas terras mais áridas. A pessoa é um dom. Um dom para si mesma e um dom para todas as demais vidas ao redor. Viva a vida, faça o melhor e deixe viver!…
(PS. este post é um desdobramento de um comentário que deixei num flog que visitei hoje – inteligente mas down demais para a idade do autor.)
Pulsões
O pensamento se aliena de mim e vai fugindo sorrateiro. Tento alcançá-lo infrutiferamente e me canso. Às vezes sinto uma sensação de ocaso e em outras um entusiamo juvenil parece estender a dimensão da vida além dos muitos anos que já ostento. Tenho percalços infantis que ainda não compreendo. A vida me parece tão simples e deve ser por isso que é complicado demais entendê-la. Uma criança não abriga questões filosóficas não resolvidas. A criança quer alguma coisa e luta para obtê-la. Chora, seduz, esperneia. A criança quase sempre consegue o seu objetivo. Quando não, ela muda o rumo dos desejos e secando a lágrima da frustração recente, já quer algo diferente. Acho que na infância se vive um dia de cada vez. Eu quero e quero muito e quero tantas coisas e, a bem da verdade, se alguém me perguntar agora eu não saberia dizer o que… Porque são tão variados os meus desejos. Tenho desejos espirituais e tenho desejos carnais e como conseguem ser carnais alguns desejos. Reflito o conflito e ajusto os desajustes. Uma coisa é certa: quase sempre caminho sereno, mas se derrapo e caio – o jeito é dar a volta por cima, me levantar e seguir vivendo!…
perspectiva infinita
pois bem
há um tempo para tudo
então pára tudo
que eu quero embarcar
e retomar a rotina
nesta grande viagem
que a vida nos dá
sou místico
e transporto em mim
centelhas do divino
sagrado e consagrado
não carrego um fardo
não lamento a cruz ou o clima
pois aqui tudo termina
quando o eterno começar
(sob o efeito de um congresso Nacional de Ministérios da RCC em Aparecida)
asas do tempo
me vêm muitos pensamentos
que assimilo e rumino
cada um com seu destino
quase sempre o vazio
sobre o dorso a letargia
que suave contagia
meus esboços de coragem
muitas vezes esmoreço
tenho um tipo de saudade
admito precavido
mas sou refém do presente
todo o passado é perdido
então porque a saudade
se a vida de verdade
só uma vez é vivida
e não volta novamente?!
enquanto isso
o tempo passa
e a sua neblina embaça
e camufla a dor da gente
eu só ambiciono a paz
e se não for querer demais
manter a que alcancei
que o tempo não vai parar
Geraldo Machado de Lima

mais uma vez
a família, do lado de cá
encolheu um tanto
e ele era uma referência
presença certa nos encontros
de sorrisos ou de lágrimas
…o tio Aldo…
já do outro lado
o time tá ficando campeão
e o tempo vai ensinando
temer menos a passagem
porque pontilha a paisagem
uma porção de gente especial
vó Chiquinha, vó Luzia, vô Machado,
meu pai, mãe,padrinho João, madrinha Sebastiana,
tia Leonina, Joana Cecília, Maria das Dores,
tio Zé, tio Dito, Diogo, André Geraldo,
Sérgio Ricardo, tia Amélia e agora o tio Aldo…
impossível enumerar os que já foram
todos eles entes especiais
só recordamos o bem das pessoas
quando partem para a eternidade…
se apagam todas as mazelas
e se salientam coisas belas
na certeza de um até breve por lá
pela tristeza de um aqui jamais…
tio Aldo
* 24/04/43
+ 14/01/06
reflexões em espirais
Sou feito de muitas camadas sobrepostas que o tempo vai acrescentando dia-a-dia, ano-a-ano. Elas parecem iguais mas vão deixando o meu eu cada vez mais escondido. Aí preciso advinhar quem sou e nestas tentativas vão surgindo pensamentos elaborados em palavras. Elas vêm aos jorros e borbotões ou são caladas nos silêncios e interrogações. O que é simples não é fácil decifrar. Em nossa investigação incessante acabamos descobrindo que esta vida é apenas uma ilha. Reféns do tempo num lugar cercado pelo infinito e a eternidade. Somos seres alados camuflando as asas até rompermos o casulo da existência. E a partir daquele ato de esvaziamento transbordante, iremos flutuar serenos rumo à uma luz tépida, dourada e sem fim. Quero apenas relaxar e seguir sem pressa rumo a este gozo que me aguarda.
Me dispo de certezas e incertezas antecipando assim este deleite desde o agora e para sempre!…
Há – eu sei – quem prefira aquele sofrimento taciturno de mergulhar numa espiral de dúvidas, porque outra alternativa da condição humana é uma espécie de masoquismo cultivado em mentes céticas e pantanosas – incapazes de acreditar na melodia do infinito ou na gratuidade do amor. Mas dessa eu já estou fora porque depois de muita luta – desse labirinto asfixiante, – eu felizmente consegui me liberar!…
liberdade liberdade
na vida quase insana
queria apenas ser
poeta e cavaleiro errante
brandindo as palavras
com arte e maestria
guardar no alforje
uma porção de cada dia
sobrando ainda um naco
para os viandantes desprovidos
incólume na vida
segue o poeta
à bordo da sua poesia
buscando algo que o prenda
e preso não sossega
se debatendo tolamente
na ânsia de escapar…
quando ele se liberta
reinicia a mesma busca
de algo que o apreenda
na malha das palavras
na senda dos delírios
que a prenda é ser a presa
sonhando a liberdade!…
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